A dor e o sofrimento são na vida de qualquer pessoa que seja, o mais intenso e crucial teste às convicções e crenças que elas professam. Não muito importa nesse momento de dificuldade pela qual a pessoa esteja passando, se a mesma vive numa ilha de abundância de espiritualidade, ou, de total ausência dela, todos são como que provados pelo fogo a fim de confirmar ou converter-se de sua postura.
A vida do cristão não se constitui em exceção disso, ainda que a Bíblia Sagrada em muitos de seus textos afirme claramente que Deus governe de maneira soberana o mundo e tudo o que nele há e que este mesmo Deus seja bom, e o amor, seja uma boa definição de seu ser. Se tudo isso é verdade, parece então que deparamo-nos com uma contradição. Não deveria afinal o Deus dos cristãos, uma vez que soberano e amoroso, contemplar os desejos e aspirações deles quando o invocam?
Antes de tudo, é preciso destacar que como descrito no livro do Gênesis, toda a obra, fruto da criação de Deus era muito boa e, este quadro sofre uma brutal transformação com a entrada do pecado no mundo_ Então, em princípio, o pecado é o causador original do sofrimento na vida dos seres humanos. Sua entrada no mundo é devida à queda de nossos pais originais que não só nos representavam, mas, nós também estávamos neles. Mas, fato é que o pecado adentrou ao mundo trazendo consigo o sofrimento e a medida que se alastraram, tornaram Deus o maior tema-debate da história em todos os campos em que se manifestam a presença do homem; a pergunta central desse debate:_ Por que Deus permite o sofrimento do homem?
Algo do qual não podemos abrir mão, é que Deus é quem melhor pode nos esclarecer Deus, e o melhor, o único meio universalmente disposto pelo qual Ele fala e a si mesmo revela, é através de sua Palavra. No livro do profeta Isaías encontramos uma preciosa contribuição de introdução para um vislumbre acerca desta questão: " Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos" declara o Senhor. Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos, são mais altos do que os seus pensamentos". Is. 55: 8-9. Aqui Deus deixa muito claro que a forma pela qual Ele age e governa a tudo é de natureza distinta e mais elevada do que a nossa. Suas concepções e trajetória de ação estão além da possibilidade humana. Então, um movimento da nossa vida que se nos parece incompreensível e inesperadas, podem esconder e escondem-nos momentaneamente um direcionamento de Deus com um propósito a ser posteriormente nos desvendado e percebido como o melhor para nós. Imaginemos a seguinte imagem: Você está à beira-mar de uma bela cidade costeira cercado de um lado por um vasto e belo oceano e, do outro, uma barreira de arranha-céus que escondem por trás deles uma favela. - Esta é uma visão bem fácil ao nosso imaginário, pois ela nos é comum no nosso mundo real_ Você sabe que a favela existe e a ocorrência do sofrimento nela é abundante, mas, você não a vê, não a experimenta, logo, não a sente. Certo dia, você tem a chance de fazer um passeio aéreo por sobre todo esses cenários, oceano, beira-mar, edifícios e favela. Agora vendo a tudo do alto, você sabe da coexistência da contradição, da riqueza e pobreza, da abundância e privação, do prazer e da dor simultaneamente, um habitando a poucos metros do outro. Agora embora a distância, seus olhos podem ver com maior proximidade o paradoxo, e você pode ser abalado de seu estado normal por se imaginar experimentando-o. Entretanto, apesar dessas duas realidades aparentemente coexistirem a revelia de Deus, ele é Senhor nelas, as Escrituras ensinam que Deus está presente e agindo dentro delas, e não só age, mas, sente-as, sofre com elas porquanto todo homem é imagem e semelhança d'Ele. Enxergar a Deus no sofrimento humano deve nos direcionar antes de tudo, para Cristo. Deus coloca o único santo perfeito que já existiu, o seu filho para sofrer a rejeição, a violência., a ignomínia diante dos homens e por eles ser crucificado finalmente, para alcançar a vitória final sobre a morte e salvar os pecadores que nele creríam. Deus não teve qualquer alegria no sofrimento do seu filho, assim como não tem alegria alguma no sofrimento de qualquer homem. Mas, Ele tem uma intenção na dor que visa tornar a quem sofre um ser, um cristão melhor, mais forte diante das dificuldades que são comuns à todos; um cristão perseverante e paciente, com condição de auxiliar ao próximo no seu momento pessoal de 'deserto e trevas'. Pelo fato de que o homem não possua essa visão do alto e futura, ela é própria de Deus, deve ele esforçar-se por não renunciar a Deus durante a provação. Pode ele dialogar e até contender com Deus assim como fez o servo paciente Jó quando tudo o que tinha perdera sob a permissão de Deus. Jó sofreu, lamentou-se e até amaldiçoou o dia de seu nascimento. Mas, tudo isso fez ele diante de Deus, reagindo contra sua situação até que, sem receber a revelação da razão pela qual sofrera, obteve a restituição dobrada de tudo o que havia perdido sem também fazer qualquer obra de mérito, recebeu de volta uma proporção dobrada que possuíra por ato deliberado de amor e graça da parte de Deus. O sofrimento de Jó ainda que não seja paradigma para nós no tocante a restituição dos béns, o nosso sofrimento pode ao seu fim não nos trazer de volta aquilo que perdemos, mas, é paradigma no que concerne ao amadurecimento e transformação realizada. Comparemos o Jó do início do livro que leva seu nome, com o Jó que surge na conclusão de sua história. Assim também, Deus faz conosco ao fim da provação pela qual passamos. " Meus ouvidos já tinham ouvido ao teu respeito, mas agora os meus olhos te víram." Jó 42: 5....