quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Adulteração espiritual







 
Detalhe de escultura representando Oséias, profeta que pregou contra o adultério de Israel







              O adultério é uma praga lastimável que corrói os relacionamentos ao ponto de provocar inimizades, separação e morte. Quando se o menciona, somos tentados a imediatamente pensarmos nos relacionamentos humanos, traições entre cônjuges, uma vez que a relativização das coisas e dos valores tem diminuído drasticamente a importância do casamento e a santidade do leito conjugal. Mas Tiago, o irmão do Senhor, refere-se no versículo 4 do quarto capítulo da carta a ele atribuída, à um adultério ainda mais perigoso, o adultério espiritual. Quando convertidos à Cristo se entregam sem freio ou pudor, aos deleites e prazeres do mundo, e, colocam a esse mundo em condição e relevância superior a Deus; ao Deus que afirmam crer. 
              Não é o Mundo,; o gigantesco planeta criado por Deus e a essa existência nossa de deveres médios, o alvo das palavras do "apóstolo" aqui. Mas, o sistema operante no mundo que sim, jaz no maligno e que não pode nos absorver como amigos, se é que para Cristo somos amigos. A palavra de Deus afirma explicitamente em Mateus 6.24, que é impossível servir/agradar a dois senhores, mas é flagrante e alarmante o quanto o cristianismo está submerso em idolatria. O cristianismo sem escolha de identidade denominacional ou nicho, em sua absurda maioria os cristãos pós-modernos ostentam sem qualquer receio ou constrangimento um vasto leque de ídolos e os dedicam uma atenção, um tempo e um louvor que minam quase por completo uma tímida lembrança do Cristo Salvador em seus atos e planos; não podemos entretanto, nos permitirmos ser demovidos das abundantes sentenças bíblicas lembrando-nos do zelo do Senhor em nos ter por propriedades exclusivas suas, pois qualquer coisa que extrapole a trindade não pode receber de nossa espiritualidade abrigo ou afeto. O mundo com certeza entende a tudo isto como fundamentalismo retrógrado e ignorante, mas, desse mesmo mundo, já fomos resgatados quando estávamos mortos em nossos pecados, e o fomos, o pagamento de alto preço. Então, sabemos bem quais os fundamentos que predominam em cada lado, para não mais sucumbirmos ao chamariz do pecado para nos afastar de Cristo.
              Espanto maior que não surpreende, é o fato de que os cristãos não manifestam fascínio apenas por ídolos seculares. Em verdade, a igreja moderna já providenciou ou gerou, os ídolos de dentro. A idolatria gospel é um movimento bastante amplo, diverso e dinâmico. No panteão dos ídolos dos altares e púlpitos pode-se escolher o cantor, o pregador, o teólogo escritor, o método e a estratégia, a HERESIA e muito mais, todos ao gosto do cliente, assim, cada um pode referendá-lo como sumo intérprete e modelo para sua vida.. Mas, onde está a presença e o aroma de Cristo nessa pessoa? _Uma parcela significativa dos cristãos faz mais questão de esconder qualquer evidência de Cristo, diante das pessoas com as quais mantêm relacionamentos. Vergonha? temor? covardia? ou  estratégia para preservar o meio onde manifesta o seu adultério espiritual?_Sem dúvidas, é certo que a forma como cada um compreende e vive o mundo e a si mesmo apartir de Cristo, isso vai determinar como ela recebeu o seu dom gratúito e como ela é povo de Deus.
               Precisamos permanente e radicalmente emanar flúidos da presença graciosa e amável de Cristo de dentro de nós. O apóstolo Paulo em sua epístola aos filipenses (a carta da alegria), exorta os cristãos daquela igreja a forma que Deus prescreve para a vida em harmonia com Cristo, com as Escrituras e com o Corpo de Cristo na terra, tais instruções são válidas para nós também que desejamos o mesmo: "... Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto,  tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês." Filipenses; 4: 8 e 9_ Não cabe em hipótese alguma o argumento leviano de que as verdades aprendidas na Bíblia podem ser reinventadas, e os costumes rejuvenescídos para esse novo cenário pós-moderno, isso é relativização; o ser interior tem de ser também percebido externamente pois, Cristo não é um tesouro a ser sufocado dentro de alguém e impedido de ser apresentado para aqueles que o desconhecem e dele  quase sempre sem saber, desesperadamente necessitam. Quando alguém afirma que tem a Cristo, mas não produz evidências disso, precisa no mínimo, voltar sua mente e seu coração para os tempos em que Ele representava uma paz que não se explicava, uma alegria que preenchia e uma motivação que não se cansava_ uma meditação profunda que produza a sensação de reconciliação pessoal com Cristo produzirá também a certeza tranquila de que não só se tem a Cristo, mas que Ele também o guarda.
              O Cristo que venceu a morte na cruz fez o que nenhum ídolo jamais podería ou pode fazer; o que Ele fez, foi de forma pública externando um incomparável por pecadores que muitas vezes parecem envergonhar-se dEle. É tempo de  REMOVER OS ÍDOLOS do coração, se achegarem a Deus e reconhecer a Cristo como o seu único e suficiente Senhor. 



"Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês." 1 Pedro: 3: 15.
 

sábado, 21 de novembro de 2015

Meditari

Confissões de Agostinho de Hipona
A ve

Pintura que retrata uma das mais universalmente conhecidas 'histórias' sobre Agostinho. - O anjo e a Santíssima Trindade.


Deus tudo penetra
                 'Para vós, Senhor a cujos olhos está patente o abismo da consciência humana, que haveria em mim oculto, ainda que vo-Lo não quisesse confessar? Poder-Vos ia ocultar a mim mesmo, mas não poderia esconder-me de Vós. Agora que os meus gemidos são testemunhas de que me desagrado, Vós iluminais-me, agradais-me, e eu de tal modo Vos amo e desejo que já me envergonho de mim.
                 Desprezo e escolho-Vos. Só por vosso amor desejo agradar-Vos a Vós e a mim.
                 Senhor, conheceis-me tal como sou. Já Vos disse com que fruto me vou confessando a Vós. Não Vos faço esta confissão com palavras e vozes de carne, mas com palavras da alma e gritos do pensamento, que Vossos ouvidos  já conhecem. Quando sou mau, o confessar-me a a Vós só significa que não atribuo nada a mim, porque abençoais, Senhor, o  justo mas antes o justificais da impiedade. Assim, ó meu Deus, a confissão que faço da vossa presença é e não é em silêncio. É em silêncio quanto as palavras; mas é em clamor quanto aos afetos. Nenhuma verdade digo aos homens que Vós já antes ma não tenhais ouvido. Nem me ouvis nada que já antes mo não tivésseis dito.'     


O orgulho

               'Terei também essa miséria como desprezível? Haverá algo que possa restituir-me a esperança, a não ser tua conhecida misericórdia, que começou a me transformar? Sabes o quanto já me transformaste; curaste-me primeiro da paixão da vingança, para perdoar-me também todos meus pecados, curar minhas fraquezas, resgatar minha vida da corrupção, conservar-me na piedade e misericórdia, e saciar dos teus bens meu desejo. Derrubaste meu orgulho pelo temor, dobrando minha cerviz a teu jugo. Agora eu trago o teu jugo, e o sinto suave, como prometeste e

cumpriste. Na verdade, teu jugo já era suave, mas eu não o sabia quando receava tomá-lo sobre mim.

               Mas, Senhor, tu és o único que sabe mandar sem orgulho, porque és o único Senhor verdadeiro, que não tem senhor! Diga-me, terá cessado em mim, se isso pode acontecer nesta vida, esta terceira espécie de tentação, que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma alegria que não é alegria? Que vida miserável, que arrogância indigna! Aí está o principal motivo porque não te amamos e tememos piamente. Por isso resistes aos soberbos, enquanto dás tua graça aos humildes. Trovejas contra as ambições do mundo, e faz abalar as montanhas até suas raízes.

               Ora, como é necessário, para se adequar à sociedade, fazer-se amar e temer pelos homens, o inimigo de nossa verdadeira felicidade nos alicia, e por toda parte semeia seus laços gritando: “Bravo! Muito bem!” – para que, ávidos, recolhamos as lisonjas e nos deixemos incautamente enredar. Seu intento é que deixemos de encontrar nossa alegria na verdade, para buscá-la na mentira dos homens; estimula em nós o prazer em nos fazer temer e amar, não pelo teu amor, mas em teu lugar. Com isso nos tornamos semelhantes a ele, não unidos na caridade, mas partilhando de suas penas. Ele quis fixar sua morada no aquilão (vento gelado do norte), para

que nós, nas trevas e no frio, servíssemos o perverso e sinuoso imitador de teu poder.

Nós, Senhor, somos teu pequeno rebanho: sê nosso dono. Estende tuas asas, para nosso refúgio. Sê nossa glória; que nos amem por tua causa, e que tua palavra seja observada por nós.

               Quem busca o louvor dos homens, quando tu o r

eprovas, não será por estes defendido quando o julgares, nem poderá subtrair á tua condenação. Mas quando não se louva um pecados pelos desejos de sua alma, nem se abençoa quem pratica iniqüidades, mas te louva um homem pelos dons que lhe concedeste, se ele se compraz mais no louvor do que no dom que lhe atrai os

louvores, tu o reprovas, a despeito dos louvores que recebe dos homens. E quem o louva é melhor do que é louvado, porque um se agradou com o dom de Deus, e o outro alegrou-se com o dom do homem'



O peso do amor
 
                Mas o Pai e o Filho, não pairavam também sobre as águas? Se os imaginamos como um corpo pairando no espaço, isso não se pode aplicar nem mesmo ao Espírito Santo. Se porém entendermos por isso a excelência imutável da divindade acima de tudo o que é transitório, então o Pai, o Filho e o Espírito Santo pairavam igualmente sobre as águas. E por que só se menciona o Espírito Santo? Por que se menciona apenas a seu respeito um lugar onde estava, ele que, no

entanto, não ocupa espaço? Também apenas dele se disse que era um dom de Deus, e é em teu dom que repousamos; é nele que gozamos de ti. Nosso repouso é nosso lugar. É para lá que o amor nos arrebata, e teu Espírito levanta nossa humildade para longe das portas da morte.

               A paz, para nós, reside na tua boa vontade. Os corpos tendem, por seu peso, para o lugar que lhes é próprio; mas um peso não tende só para baixo; tende para o lugar que lhe é próprio. O fogo sobe, a pedra cai. Cada um é movido por seu peso, e tende para seu justo lugar. O óleo, lançado à água, flutua; a água, lançada ao óleo, afunda. Ambos são impelidos por seu peso a procurarem o lugar que lhes é próprio. As coisas que não estão em seu lugar se agitam; mas quando o encontram, repousam.

               Meu peso é meu amor; para onde quer que eu vá, é ele quem me leva. Teu dom nos inflama e nos eleva; ardemos e partimos. Subimos os degraus do coração e cantamos o cântico gradual. É o teu fogo, o teu fogo benfazejo que nos consome e nos eleva, enquanto subimos para a paz de Jerusalém celeste. Regozijei-me ao ouvir essas palavras: “Vamos para a casa do Senhor!” – Ali nos há de instalar tua boa vontade, e não desejaremos nada mais do que permanecer ali eternamente.




 A verdadeira felicidade

               'Longe de mim, longe do coração de teu servo, Senhor, que a ti se confessa, a idéia de encontrar a felicidade não importa em que alegria! A felicidade é uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem por puro amor: tu és essa alegria! Alegrar-se de ti, em ti e por ti: isso é felicidade. E não há outra. Os que imaginam outra felicidade, apegam-se a uma alegria que não é a verdadeira. Contudo, sempre há uma imagem da alegria da qual sua vontade
não se afasta.'

Felicidade e verdade

                  'Poderemos então concluir que nem todos desejam ser felizes, pois há aqueles que não querem buscar em ti sua alegria, tu que és a única felicidade? Ou talvez todos a queiram, mas, como a carne combate contra o espírito, e o espírito contra a carne, e com isso se contentam.
Porque não querem com força bastante aquilo que não podem, para obtê-lo. Pergunto a todos se preferem encontrar a alegria na verdade ou no erro; ninguém hesita em declarar que preferem a verdade, como em dizer que querem ser felizes. É que a felicidade é a alegria que provém da verdade. E essa alegria é a que nasce de ti, que és a própria Verdade, ó meu Deus, minha luz, saúde de meu rosto! Todos querem essa vida, a única feliz, essa alegria que se origina na verdade.
                  Encontrei muitos que gostam de enganar, mas ninguém que quisesse ser enganado. Onde, então, conheceram a felicidade, senão onde conheceram a verdade? Visto que não querem ser enganados, também amam a verdade, e desde que amam a felicidade, que nada mais é que a alegria proveniente da verdade, certamente também amam a verdade; e não a amariam se não retivessem dela, na sua memória, alguma noção. Por que, então, não se alegram com ela? Por
que não são felizes? Porque se empolgam demais com outras coisas, que os tornam mais infelizes do que a verdade, de que se recordam fracamente, e que os faria felizes.
                 Há ainda um pouco de luz entre os homens: caminhem, caminhem, para que as trevas não os surpreendam. Mas por que a verdade gera o ódio? Por que os homens olham como inimigo aquele que a prega em teu nome, uma vez que amam a felicidade, que mais não é que a alegria nascida da verdade? Talvez por amarem a verdade de tal modo que tudo de diferente que amam, querem que seja verdade; e, não admitindo ser enganados, também não querem ser convencidos de seu erro. Desse modo, detestam a verdade por amarem aquilo que tomam pela verdade. Amam-na quando ela brilha, mas odeiam-na quando os repreende e como não querem ser enganados, mas enganar, eles a amam quando ela se manifesta, mas a odeiam quando ela os denuncia. Porém ela os castiga; não querem ser descobertos pela verdade, mas esta os denuncia, sem que por isso se manifeste a eles. É assim o coração do homem! Cego e lerdo, torpe e indecente: quer permanecer oculto, mas não quer que nada lhe seja ocultado. Em castigo, sucede-lhe o contrário: não consegue esconder-se da verdade, enquanto esta lhe continua oculta. Contudo, apesar de tão infeliz, prefere encontrar alegrias na verdade que no erro.
               Será, portanto, feliz quando, livre de perturbações, se alegrar somente na Verdade, origem de tudo o que é verdadeiro.'

Solilóquio de amor

              'Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar! Eu, disforme, me atirava à beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinham-me longe de ti aquilo que nem existiria se não existisse em ti. Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor afugentou minha cegueira. Exalaste teu perfume, respirei-o, e suspiro por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo de tua paz me inflama.'   


Fonte bibliográfica de suporte: As confissões, Santo Agostinho/ Os pensadores. Editora Nova Cultural

sábado, 14 de novembro de 2015

Meditari



  


C. S. Lewis em seu escritório.





Representação do leão Aslam de "As crônicas de Narnia" de autoria de Lewis.



                 Clive Staples Lewis ou como tornou-se mundialmente conhecido C. S. Lewis nasceu em Belfast, capital da Irlanda do Norte, no Reino Unido, em 29 de Novembro de 1898 e é considerado um dos gigantes intelectuais do Século XX tendo criado uma ampla produção literária tanto no campo da ficção (concebeu por exemplo o mundo e a saga das crônicas de Nárnia, recentemente ainda mais popularizada nos cinemas), como na  poesia e na crítica histórica e literária, bem como seus livros filosófico-teológicos posteriores à sua conversão ao cristianismo. Lewis foi professor universitário de língua inglesa na Cambridge University e na Oxford University, sendo esta ultima, local onde fez parte de um grupo de altos acadêmicos (The Inklings), o que agudou ainda mais sua obra e o fez voltar sua atenção para o Cristo que havia abandonado na adolescência quando tornara-se um ateu convicto apesar de ter sido criado dentro de uma vida religiosa na igreja da Irlanda. 
               Foi a partir de conversas com dois colegas dos Inklings, J. R. R. Tolkien (O senhor dos anéis) e Dyson acerca da natureza e simbolismo do real nos mitos que Lewis convenceu-se primeiro de que o cristianismo era um mito verdadeiro, mais tarde, "ultrapassou" da crença em Deus (teísmo) para a crença em Cristo e, por fim, para a crença na divindade de Cristo. Os amigos Lewis e Tolkien criam intensamente na relevância dos mitos ("... um mito é uma história que transmite coisas fundamentais em outras palavras.")*para se ter uma percepção mais ampla para além da realidade, para se ver as estruturas mais profundas das coisas. Não à toa, ambos desenvolveram uma vasta e complexa obra de ficção fantástica (As crônicas de Nárnia e O senhor dos anéis) que extrapola a simples classificação de fantasia ou literatura infanto-juvenil. Ambas estão permeadas de profundas metáforas e símbolos que tocam ao homem e o mundo em que vivemos por entre seus poderosos e fascinantes mitos.
               C. S. Lewis foi extremamente relutante até completar-se seu processo de conversão ao cristianismo, mas, depois de compreender a Cristo como Senhor e Salvador pessoal, tornou-se um dos mais brilhantes apologistas do cristianismo desde sua época até hoje. Sua obra apresenta algumas das mais bem estruturadas defesas da verdadeira fé cristã, são textos ao mesmo tempo de densidade e de clareza, sendo que seus livros refletindo a vida e o caráter cristão estão em fiel conformidade com a Bíblia, o testamento de Deus para a humanidade. O cristianismo é na obra posterior de Lewis uma lição de conduta natural e real voltada para seres reais ao mesmo tempo espantosamente frágeis e potencialmente impressionantes. Durante sua vida, Lewis foi professor, escritor, romancista, poeta, ensaísta e crítico literário (literatura medieval e renascentista). Em meio aos horrores da Segunda Guerra Mundial, o povo britânico extremamente ferido em seus corações e sem esperança foi ricamente acalentado por uma  série de preleções de rádio através da BBC (British Broadcasting Corporation), feitas por Lewis, onde ele falava dos contrastes do mundo presente, de dualidades, da fé cristã e da conduta do cristão. Essas apresentações, resultaram em seu livro mais aclamado no mundo, Cristianismo Puro e Simples, e, o que se pode dizer a respeito da importância/relevância desse livro para os cristãos é um 'singelo' vocábulo: fundamental.
  Disse C.S. Lewis sobre o sentido visto por ele e  impresso no título do livro:
[ O cristianismo puro e simples ] é como um saguão no qual há muitas portas para diferentes salas. Se eu conseguir trazer alguém para esse saguão, terei feito o que pretendia fazer. Mas é nas salas, não no saguão, que há lareiras, cadeiras e refeições. O saguão é um lugar de espera, um lugar em que se pode tentar abrir uma dentre várias portas, não um lugar para se viver.

 Outras reflexões presentes na obra de Lewis

 Lewis e a visão de um mundo disputado por um dualismo de forças espirituais concorrentes.
O cristianismo concorda com o dualismo em que o universo está em guerra, mas discorda que seja uma guerra entre forças independentes. Considera-a antes uma guerra civil, uma rebelião, e afirma que vivemos na parte do universo ocupada pelos rebeldes. Um território ocupado pelo inimigo – assim é este mundo. O Cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem. Quando você vai à igreja, na verdade vai receber os códigos secretos mandados por nossos amigos: não é por outro motivo que o inimigo fica tão ansioso para nos impedir de frequentá-la. Ele apela à nossa vaidade, preguiça e esnobismo intelectual. Sei que alguém vai me perguntar: ‘Você quer mesmo, na época em que vivemos, trazer de novo à baila a figura do nosso velho amigo, o diabo, com seus chifres e seu rabo?’ Bem, o que a ‘época em que vivemos’ tem a ver com o assunto, eu não sei. Quanto aos chifres e ao rabo, não faço muita questão deles. Quanto ao mais, porém, minha resposta é ‘sim’. Não afirmo conhecer coisa alguma sobre a aparência pessoal do diabo, mas, se alguém realmente quisesse conhecê-lo melhor, eu diria a essa pessoa: ‘Não se preocupe. Se você realmente quiser travar relações com ele, vai conseguir. Se vai gostar ou não dessa experiência, isso é outro assunto.
Cristianismo puro e simples.

Lewis e a condição inerente ao amor.
 Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo à ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.
Os quatro amores.


” Nenhum homem sabe quão mau ele é, até que ele tenha tentado de toda maneira ser bom. Uma ideia tola, mas muito atual é que as pessoas boas não conhecem o significado ou não passam por tentações. Isto é uma mentira óbvia. Só aqueles que tentam resistir a tentação, sabem quão forte ela é. Afinal de contas, você descobre a força do exército inimigo lutando contra ele, não cedendo a ele. Você descobre a força de um vento, tentando caminhar contra ele, não se deitando ao chão. Um homem que cede ante a tentação depois de cinco minutos, simplesmente não sabe o que teria acontecido se tivesse esperado uma hora. Esta é a razão pela qual as pessoas ruins, de certa forma, sabem muito pouco sobre sua maldade. Elas viveram uma vida abrigada por estarem sempre cedendo. Nós nunca descobrimos a força do impulso mal dentro de nós, até que nós tentamos lutar contra ele: e Cristo, porque Ele foi o único homem que
nunca se rendeu a tentação, também é o único homem que conhece completamente o que tentação significa–o único realista no total sentido da palavra”.

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Perdão e Desculpa são duas palavras tão banais no uso, que nem desconfiamos da diferença entre elas. Em um certo sentido, Perdão e Desculpa são palavras quase opostas. O Perdão nos diz "ok, você fez isso, mas eu aceito seu pedido de perdão; não jogarei isso na sua cara e seremos do mesmo jeito que éramos antes". Já a Desculpa, fala "eu percebo que você não podia evitar, sei que realmente você não queria fazer isso; você não é culpado". Assim, um ato falho sem culpa precisa de desculpa, e não de perdão. Da mesma forma, boas desculpas não precisam de perdão - já que o perdão exige culpa - e se você quer ser perdoado, não há desculpas para o que fez - pois pedir perdão é assumir a culpa.
Porém, isso não invalida a possibilidade de haver os dois ao mesmo tempo. O problema está em pedirmos desculpas para aquilo que exige perdão.
C.S. Lewis

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Uma vez perguntaram para Lewis: “É necessário frequentar um culto ou ser membro de uma comunidade cristã para um modo cristão de vida?”

Sua resposta foi a seguinte: “Esta é uma pergunta que eu não posso responder. Minha própria experiência é que logo que eu me tornei um cristão, cerca de quatorze anos atrás, eu pensava que poderia me virar sozinho, me retirando a meu quarto e lendo teologia, e não frequentava igrejas ou estudos bíblicos; e então mais tarde eu descobri que era o único modo de você agitar sua bandeira; e, naturalmente, eu descobri que isso significava ser um alvo. É extraordinário o quão inconveniente para sua família é você ter que acordar cedo para ir à Igreja. Não importa tanto se você tem que acordar cedo para qualquer outra coisa, mas se você acorda cedo para ir à igreja é algo egoísta de sua parte e você irrita todos na casa. Se há qualquer coisa no ensinamento do Novo Testamento que é na natureza de mandamento, é que você é obrigado a participar do Sacramento e você não pode fazer isso sem ir à igreja. Eu não gostava muito dos seus hinos, os quais eu considerava poemas de quinta categoria com música de sexta categoria. Mas à medida em que eu ia eu vi o grande mérito disso. Eu me vi diante de pessoas diferentes de aparência e educação diferentes, e meu conceito gradualmente começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (os quais eram apenas música de sexta categoria) eram, no entanto, cantados com tamanha devoção e entrega por um velho santo calçando botas de borracha no banco ao lado, e então você percebe que você não está apto sequer para limpar aquelas botas. Isso o liberta de seu conceito solitário."
C.S. Lewis



Fonte bibliográfica de apoio: A vida de C. S. Lewis_ Do ateísmo às terras de Nárnia /  Alister McGrath_ Editora Mundo Cristão