Uma gravura retratando Susanna Wesley a mãe do fundador da Igreja Metodista |
Susanna Wesley (nascida Susanna Annesley em 20 de Janeiro de 1669, na pequena cidade de Epworth, Inglaterra) pode ser chamada com toda a justiça "a mãe do Wesleyanismo" ou "mãe" da Igreja Metodista em virtude de ter sido ela não somente o ventre que trouxe à luz John Wesley (o pai e fundador do metodismo) e seu irmão Charles, mas, sobretudo, pelo fato de por seu exemplo de mulher e educadora virtuosa, ofereceu aos seus filhos desde cedo a mais fiel instrução nas Escrituras Sagradas por compreender que o papel fundamental e ministério da mulher ser o de criar filhos e lares para Deus.
Filha de um lar puritano e tendo sido a caçula de uma prole de 25 filhos, Susanna aprendeu prematuramente, tantas vezes presenciando os exemplos extraídos do cotidiano familiar, o valor e a retidão da santidade cristã no testemunho pessoal e de uma vida cristã integral e natural, que começa a partir de "nossa congregação primeira", os nossos lares. Ao casar-se com um ministro da igreja anglicana, experimentou a confusa relação entre disciplina e rispidez que o marido aplicava na educação dos filhos. Em resposta a esses excessos lançados sobre os filhos, Susanna redobrou-lhes o amor e o cuidado vigilante para que os mesmos não caíssem em falha junto ao pai e sofressem injusta punição. É uma contribuição pessoal de Susanna fundamental para o êxito inicial do ministério de seu filho John, a instituição e o incentivo aos cultos domésticos. Foi como uma atividade ministerial paralela ao ministério pastoral do marido conduzida com muito amor e zelo por Susanna desde sempre, a dedicação de seu lar para congregar mulheres em torno da Palavra de Deus. Enfrentou ela, resistências e censura por parte da denominação de seu marido Samuel, que via com maus olhos e um perigo institucional o crescente número de pessoas arrebatadas pela pregação de Susanna, mesmo que jamais ela tenha de fato realizado um sermão ou pregação de acordo com o método e o padrão pastoral próprios do ministério masculino. Em tudo isso, Susanna não se deixou abater e prevaleceu sobre as discórdias e com a aprovação do marido prosseguiu em seu sacro ofício.
Mais tarde, John Wesley fez uso abundante das lições de perseverança, paciência e vigilante postura de santidade para levar a mensagem do Evangelho e compartilhar o amor de Deus que ele aprendera ser inteiro e real somente pela evangelização. À nascente Igreja metodista que ele iniciou e estruturou durante toda sua vida, Wesley levou o exemplo de crescimento através dos cultos domésticos e, quando nenhum lugar podia mais comportar o ajuntamento de fiéis reunidos em Cristo, ele os reunia em áreas abertas, bosques e, a Céu aberto, fazia o uso de sua altissonante voz para proclamar a Verdade. Mas, é sem duvidas a vida e obra de Susanna Wesley, o exemplo raro em tamanho, de uma testemunha fiel em perfeita sintonia com o Evangelho não só para a formação de seus filhos, não só para as bases fundacionais da Igreja Metodista, mas, para a integralidade dos filhos de Deus espalhados sobre a terra.
Em tempos difíceis onde se busca impor uma danosa redefinição dos padrões conservadores de família e de liberdades, onde os valores morais e éticos de origem judaico-cristãos são tarjados de autoritários, retrógrados e castradores, cabe relembrar e destacar o alerta de Susanna Wesley acerca da educação e formação de filhos como um modo de prepará-los para as causas do mundo e preservá-los da condenação eterna: "Eu insisto em que a vontade da criança deve ser dominada cedo. A obstinação é a raiz de todos os pecados e misérias; todo aquele que incentiva a obstinação numa criança garante seu naufrágio no futuro. Todo aquele que a educa e a disciplina garante sua futura alegria e piedade. Quando consideramos que a religião está realizando a vontade de Deus, e não a nossa, o único grande impedimento para a nossa felicidade temporal e eterna é a nossa obstinação. Assim, nenhuma indulgência pode ser trivial e nenhuma negação deixa de ter recompensa. O céu ou o inferno dependem somente disso; assim, o pai que estuda uma forma de vencer a obstinação dos filhos trabalha junto com Deus na renovação e na salvação de uma alma. O pai que se submete à vontade obstinada dos filhos faz a obra do diabo, torna a religião impraticável e a salvação inalcançável. Ao ceder a todas as suas vontades, condena os seus filhos, alma e corpo para sempre."
Mais abaixo, dispomos um pequeno texto de Susanna Wesley numa apologia devocional do Domingo, o Dia do Senhor como um marco no tempo voltado para descanso físico e para refrigério espiritual do crente. Um dia cedido como dádiva de Deus para o homem celebrar sua união com o seu Senhor. Dignas de nota são também as palavras de despedida de Susanna aos seus filhos, proferidas poucos instantes antes de sua partida para encontrar-se com seu Senhor e Deus: "Meus filhos, tão logo eu seja posta em liberdade, cantem um salmo de louvor a Deus"; era o dia 23 de Julho de 1742.
Esse é o Dia que o Senhor fez; regozijarei e me alegrarei nele
Glória seja dada a Ti, Eterno pai dos espíritos,
por concederes tão bondosa e graciosamente um Dia entre sete
às criaturas que Tu fizeste.
No qual, a responsabilidade, assim como a alegria delas,
consiste em afastar-se dos negócios e correria de um mundo
turbulento de irritações e aborrecimentos,
sendo a elas permitido desfrutar atenção mais imediata
e ininterrupta da majestade divina.
Ó bendita concessão! Ò Dia mais feliz de todos!
Senhor, eu nunca poderei adorar suficientemente Teu infinito amor
e bondade ao dedicar essa sétima parte de meu tempo a Ti.
Que esses momentos sagrados sempre sejam empregados a Teu serviço.
Que nenhuma ideia ou fala vãs ou inúteis venham roubar-Te
a honra e o louvor devidos a Ti nesse dia;
ou privar minha alma desse benefício peculiar
e das bênçãos a serem recebidas,
pela realização consciente das responsabilidades desse Dia.
Bibliografia de apoio: Impacto publicações
"Devotion journal", in Michael D. McMullen, hearts aflame; Prayers of Susanna, John and Charles Wesley._ Uma introdução à espiritualidade cristã, Allister McGrath.