sexta-feira, 9 de dezembro de 2016





 O Espírito Santo é o pedagogo dos mistérios da fé cristã
                                                               ( I de II )


O batismo de Jesus Cristo por Gustave Doré
 

           Toda a trajetória do povo de Deus descrita nas Escrituras Sagradas nos mostra sempre a presença d’Ele Deus atuando pessoalmente ou comissionando a outro (s) o papel de mestre e de condutor de seus escolhidos de forma a não sair por atalhos ou desvios de seu caminho e ao mesmo tempo, compreender progressivamente a pessoa de Deus e seu plano tanto para o mundo inteiro, quanto para cada indivíduo.
           Dentre tantos, o texto de [Salmos 32,8_ Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você.] expressa de maneira clara a atuação de Deus, o Pai como o guia confiável daquele que n’Ele põe a sua fé. Da mesma forma, em todo o Antigo Testamento, há uma rica sequência de textos onde manifestações teofânicas e angelicais, patriarcas, juízes e profetas desempenham a função do magistério revelacional da Palavra de Deus, por trás delas há uma pessoa divina que age em nome das três no sentido de fazer ao ser humano a mensagem inteligível; que a mensagem ultrapasse o linguajar e a expressão inefável e alcance a altura da humanidade.
            Encontramos toda uma riqueza textual que ao contemplarmos de nossa posição atual para o passado, parece-nos que Israel, o povo de Deus, por toda a sua história de erros e acertos e por sua posição privilegiada de guardião dos oráculos divinos de Deus deveria já estar prontamente habilitado para compreender suficientemente a promessa do Messias e acolher ao Cristo com altissonantes louvores a Deus. Por duas razões não foi isso o que ocorreu, a dureza do coração humano em aceitar a orientação de Deus em lugar de sua  autonomia imediatista, porém limitada, e, por fundamentos que o tempo e a sua dimensão nos guardam como mistério. Jesus Cristo no entanto, através de seu sacrifício, mais que preenche o que era abismo de separação entre homem e Deus, ele também rasga o véu de separação entre o espírito humano e o Espírito de Deus ao abrir caminho para o παράκλητος - paráklētos.

 

     Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para o meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes  alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador para que fique convosco para sempre. O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia, conhecereis que estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama, e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós e não ao mundo? Jesus  respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isso, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.   
                                                       João. 14: 11-26

            Jesus Cristo Veio ao mundo e o mundo no entanto,  não experimentou o Emanuel na sua plenitude, poucos (em números relativos) o escutaram e seguiram seu ensinamento. E, mesmo assim, aqueles que se mantiveram dentro do seu círculo mais próximo de amigos deram provas vívidas de que não  haviam de fato o compreendido de maneira real e que despertasse uma fidelidade indissolúvel. Um dos doze dele duvidou até tarde, outro quis tomar a condução de seu  martírio voluntário e irrevogável, um pior, roubava e o traiu entregando-o escandalosamente para a morte. Então, se no ministério do próprio Cristo, reconhecido dignamente como o Mestre dos mestres, ainda encontramos aspectos que mostram a incompletude da função de orientador dos filhos de Deus em Cristo, somos levados (por ele mesmo) a crer que um outro ainda virá em auxílio e para desempenhar de forma definitiva o ápice do mentoriamento sobre seu povo, sobre sua igreja.
             Este Consolador (manto, coberta... supracitado no Evangelho) que vem para o auxílio da igreja e de cada membro em sua individualidade, é o Espírito Santo,   que vem em nome de Jesus, ou seja,  que vem como emissário de Jesus Cristo assim como  Jesus veio em nome de Deus, seu Pai, como emissário de seu Pai como se verifica em v.c. 5, 43 e 10, 25. // D. A. Carson em seu comentário ao Evangelho de João argumenta acertadamente a primeira função do Espírito Santo (depois de Jesus ser glorificado) era lembrar aos discípulos do seu ensino, e assim, ajudá-los a entender seu significado e ensinar a eles o que ele queria dizer. Exemplos desta ação podem ser conferidos em v.c  2, 19-22; 12, 16; cf. 20, 9. Carson afirma que esta promessa e função aplica-se para os cristãos-testemunhas do primeiro século, em particular os discípulos do Senhor, não querendo dizer necessariamente seriam reensinados pelo Espírito, mas  que o Espírito preencheria a revelação trazida por Jesus, fazendo com que eles alcançassem um correto e pleno entendimento da verdade de Jesus Cristo.
            Desta forma, (pela leitura do texto destacado e por esta compreensão) sabemos que existe uma união harmônica e indissolúvel dentro da trindade; que Deus através de suas três pessoas reais elaborou um plano onde cada uma delas desempenha um papel histórico mais proeminente sem que isso signifique o silêncio das demais; que o Pai é autor e consumador de toda a vida, dos tempos e da eternidade; que Ele escreveu uma história onde nós os que n’Ele cremos não somos poupados das dores do mundo, nem privados dos sabores da vida pelo fato de termos sido alcançados por sua graça, manifesta no Cristo. Mas que para Ele e sob a proteção d’Ele caminhamos para a sua glória. A vitória final está consagrada.///  Aprendemos que Jesus o Cristo é o Emanuel, o mestre que pelo ensino e pelo exemplo nos tomou irresistivelmente para Ele e n’Ele aprendemos a mais bela história até onde nossa mente e fé pode nos levar. E por fim, aprendemos que o Espírito Santo veio como o filtro e o intérprete da mensagem de Jesus aos nossos ouvidos, revelando-nos questões que não entenderíamos através do uso de nossas faculdades e ciências, e ainda, dilatando o nosso espírito e coração e aumentando a nossa fé.
                   O milagre das diversas línguas (ou glossolalia) é um evento extremamente significativo da atuação do Espírito Santo sobre o homem a quem Deus chama definitivamente para si. Os discípulos então cheios do Espírito Santo começaram a falar as ‘maravilhas de Deus’ e de forma sobrenatural a grande multidão de judeus que ali se encontravam em razão da festa do Pentecostes, passou a entender-lhes cada um conforme sua língua nativa. As aparentes “línguas de fogo” que pousaram sobre os apóstolos certamente efetuaram neles um milagre que nos lembra as palavras de João Batista (Lucas. 3, 16) e o batismo de juízo e purificação, mas, logo a seguir, ocorre um milagre de proporções muito maiores: o processo de entendimento da mensagem por parte da grande multidão representa a ação do Espírito Santo como intérprete, o milagre ocorre sobre a audiência* que ouve e entende a Palavra anunciada pelos discípulos/apóstolos. Isto nos ensina também que em todas as vezes que este dom se repete (para quem crer em sua atualidade) se faz necessária a presença do intérprete.  
                    O Espírito Santo também fala para Deus o que nós não conseguimos fazê-lo de maneira correta ou inteligível e transforma nossa fraqueza (ou enfermidade) e incapacidade em oração que agrada a Deus. O Espírito Intercede por nós de maneiras inefáveis quando não conseguimos sequer articular sons conexos para Deus  como se eles fossem uma oração em um idioma estranho, o Espírito Santo leva-a a Deus e Ele entende a intenção do Espírito e  alcança para nós favor e a alegria de Deus (Romanos. 8, 26 e 27).
                   Há um texto escrito em linguagem poética, de  James Montgomery que expressa muito bem esse agir específico do Espírito:  
            “A oração é desejo da alma,
            quer expresso, quer não;                                                        
           movimento de chamas ocultas,
          que no peito estremecem.

         A oração fardo é de um suspiro,
        o cair de uma lágrima,
       o relance do olhar para o alto,
      quando só Deus está perto.” 





*Esta afirmação não se refere ao ordenamento mecânico do milagre das línguas,  é apenas uma construção literária.


sábado, 23 de abril de 2016

Descobrimento de nossa miséria

                     
      Convidados/ Provocações      
     



                     Em 22 de abril de 1500, descobriram o Brasil, a história oficial conta assim. Descobriram uma terra cheia de 'Ouro' que podia ser explorada, descobriram uma imensa fauna e flora que podia ser desvastada, os índios, legítimos donos da terra foram dizimados...a corrupção...essa não sei se foi descoberta aqui...mas aqui ela foi aperfeiçoada. E nessa trilha caminhamos rumo a estagnação...a violência desenfreada, narcotráfico tomando de conta das ruas, mulheres não podem mais ser vistas como recatadas que viram piadas...deputados cospem na cara dos outros sob o pretexto de defenderem direitos...isso tem solução? Os amigos que viajam para Europa...voltam contando maravilhas, a Suíça "que povo educado". Mas lá nem sempre foi assim...os dias por lá também já foram tenebrosos...até que ocorreu uma mudança radical...sobre esse assunto...passo a bola pro Marcio Rogerio Bernardo, ele é mais capacitado que eu para falar desse assunto.




Uma bela gravura representando a chegada dos portugueses no Brasil


                           
                   

                


                   A propósito do tema aberto por Socorro Matos, "descobrimento" é um termo que causa a mais forte ojeriza e indignação dos nativos desta terra por trazer-lhes à mente a expropriação e o genocídio promovido contra seus ancestrais pelo europeu invasor, há pouco mais que 500 anos, e, que até hoje não lhes foi restituída compensação escrupulosa ou mesmo a própria dignidade. ' O Descobrimento do Brasil' é o marco inicial da pilhagem mais lucrativa sobre o Novo Mundo e nada tem de heroísmo e de conquista, é uma história de sangue e dor.
                    O invasor, mais tarde colonizador, sempre viu o Brasil como uma fonte de extração de riquezas para serem usufruídas no exterior e, talvez, o legado real dos portugueses e outros nem foi a corrupção, esta é um mal próprio da humanidade, mas, foi o senso de alienação ou não-pertencimento nacional, pois hoje e sempre, o brasileiro conforme progride social e economicamente voltou sua atenção e anseios para outros países mais evoluídos. A corrupção no Brasil começa com Pero Vaz de Caminha que após o descobrimento em carta ao rei de Portugal solicita-lhe um emprego público para um parente; a corrupção no Brasil está na negligência dos jesuitas de oferecer o ensino apenas aos dignitários e nobres da nação e, repelir sanguinariamente sob a liderança do Padre Anchieta os missionários huguenotes (calvinistas) enviados da França por João Calvino, uma vez que, além e para o propósito evangelístico desses, a educação pública era um princípio norteador de sua missão; a corrupção está no nascimento golpista da República que escorraçou um imperador que embora pouco afeito com a política, era um apaixonado pela pátria, e, a corrupção está em não oferecer o bem público e impedir violentamente aqueles que se propõem a fazê-lo está aqui hoje quase que onisciente no fato de que quadros corruptos são julgados e combatidos por agentes corruptos usando de expedientes pervertidos.
                    O velho adágio ufanista 'o Brasil é o país do futuro' jaz na poeira da corrupção e as esperanças ainda que renovadas pela operação Lava-jato por exemplo, ainda inspiram a desconfiança de que num médio prazo o país se torne um lugar de prevalência moral e cívica. Acerca do exemplo suiço sugerido por minha predecessora nesse tema, um país que fora conhecido como lar de mercenários de aluguel para as guerras entre nações européias no Século XVI, e hoje desfruta e oferece aos seus cidadãos invejáveis liberdades individuais, equilíbrio social, cultural e ético nem se vislumbra num longínquo horizonte imaginado por um brasileiro sonhador. E na mesma Suiça, não foi preciso se fazer novas guerras para promover a transformação radical cujos efeitos perduram até hoje, também não foi necessário fazer uso de expedientes excusos. A força motivadora de tal transformação foi o Evangelho propagado pelo reformador protestante de segunda geração João Calvino, que ao lado de outros, pregou a mensagem cristã acompanhada de um processo educador do povo e da ampla formação profissional dos mesmos, tanto de pobres vocacionados quanto párias que levavam uma vida de vadiagem e pequenos furtos. Também não faltou o justo auxílio aos mais pobres até que eles se tornassem produtivos para a sociedade. Tão logo se perceberam os bons efeitos do Evangelho na Suiça, o mesmo programa da Reforma mais a promoção da justiça social
com pontuais ajustes locais foi posto em prática por toda a Europa. Então, ainda que seja devida a Deus a mudança operada, é salutar aqui lembrar que o mesmo Deus faz uso de mãos humanas para agir na sociedade.
              Mas, ainda que sobrem na perspectiva imediata motivos para desistir da resistência e do enfrentamento e até mesmo haja muitas aberturas para se inserir no círculo da corrupção, o cidadão médio deve antes de tudo se orientar pela sua própria consciência e temor, considerando o que será o seu legado pessoal para os seus e o que a sua interferência no meio promove se bem ou mal, em síntese qual foi a sua causa nesta vida; apenas um cidadão que é íntegro e moralmente pudico tem a dignidade o bastante para cobrar a legalidade e a legitimidade das instituições públicas e pode reformá-las. Parafraseando o educador Darcy Ribeiro:' ...Travei muitas lutas durante a minha vida toda, e em verdade, a maior parte delas perdi. Mas, não importa pior derrota seria ter me unido aos que combati'. No dia em que se lembra o descobrimento do Brasil pelo homem exterior, talvez um bom exercício pessoal seria buscar se descobrir a si mesmo, que tipo de brasileiro cada um é, quer e pode ser.

* Cabe o esclarecimento de que quando citado o exemplo suiço no Século XVI, especificamente nos referimos à Genebra como o ponto de partida da transformação social européia, pois à época, a mesma ainda não era parte integrante da Suiça.

 ** Nesta aba convidados, o blog King of the Universe discorre sobre algum tema sugerido ou provocado por seus leitores e amigos.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Jejum / Abstinência física ou espiritual.

         



Uma representação ilustrativa de Jesus no deserto


                       O jejum é um antiquíssimo costume de origem e aplicação religiosa e mística amplamente disseminado nas mais distintas culturas e povos ao redor do mundo, tendo também distintas nuances quanto ás motivações e objetivos em perspectiva; é também uma prática ainda muito difundida e posta em exercício pela igreja cristã em suas mais diversas vertentes e matizes em países que como o Brasil até então preservam tradições de herança religiosa. Sobretudo, pensando no exemplo brasileiro onde se respiram ventos antigos soprados pela formação catequética original do catolicismo então imposto em tempos de colonização da nova terra, no período de 40 dias que compreendem o término do festival nacional mais profano e o Domingo de páscoa, liturgicamente denominado de quaresma, esse ensino da igreja é posto em evidência e é mais discutido e percebido por nossos olhos e ouvidos. Mas, em verdade, o que Deus, em sua voz escrita ensina e prescreve aos cristãos, e que é válido para hoje.
                     Antes de aprofundarmo-nos um pouco nesta temática, cabe uma pequena exposição dos fundamentos para a prática do jejum para as 3 grandes religiões monoteístas do mundo, as quais, suas origens remontam ao patriarca Abraão, sendo que quando tratar-se do Cristianismo, aqui se enfocará o seu ramo de maior densidade populacional, o catolicismo romano.

Judaísmo- os judeus praticam o jejum durante o Yom Kippur (dia do perdão), que é tido como o Sábado dos Sábados, ou Shabat HaShabatot, o mais sagrado dos dias dentro do calendário judaico e que lembra o tempo em que Moisés desceu do Monte Sinai e encontrou o povo hebreu em prostituição e adoração ao bezerro de ouro. Os rebeldes foram punidos mortalmente, o povo perdeu a permanente presença de Deus como aquele ia adiante deles e só depois de grande contrição e arrependimento foram perdoados e convocados a caminhar rumo à Terra Prometida. Para os judeus religiosos , ainda hoje, deve ser um dia voltado para a consternação e reflexão, e seu jejum deve ser observado desde o pôr do Sol de um dia até o pôr do Sol seguinte.

Cristianismo (católico)- No catolicismo o jejum é uma convenção de fé compreendida dentro dos dias e tempos penitenciais que são as Sextas e quaresmas. É uma prescrição legislativa do Código de Direito Canônico, documento autoritativo da igreja. A orientação da igreja romana em consonância com a CNBB* é de que o fiel se dedique à oração, renuncia de si mesmo e prática da caridade e da piedade, o que mediante a aplicação dessas recomendações, torná-lo á apto para uma melhor execução de suas responsabilidades pessoais. No jejum o fiel busca participar das agonias de Cristo na cruz. O CDC da igreja católica define o jejum como obrigatório e como lei divina aos maiores de 18 e menores de 60, excetuando-se os enfermos e obriga os que já completaram 14 anos de idade a praticarem alguma forma de abstinência.
* Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Islamismo- O Jejum (jejum ritual ou 'Saum') para os muçulmanos é um dos 5 pilares aos quais o fiel está obrigado a praticar. O jejum é indicado para os dias do período do Ramadã, o nono mês do calendário islâmico onde se deve renovar a fé mediante a prática da caridade, de uma imersão maior à fraternidade e convívio familiar pedagógico. Segundo o Alcorão, "o Ramadã foi o mês em que foi revelado o Alcorão; orientação para a humanidade e evidência de orientação e discernimento". Obrigados ao jejum estão todos exceto enfermos, grávidas, lactantes, as mulheres em período de fluxo e idosos. O tempo de observância é de desde o nascer do Sol ao ocaso e aqueles que durante o jejum fizerem ingestão de alimentos ou água, ou praticarem o ato sexual incidem em quebra e anulação do ritual, sendo que serão então obrigados ao jejum contínuo de 60 dias consecutivos. O espírito por trás da norma descreve o jejum como um tempo de disciplina e seu fim é o perdão dos pecados (dzamb/haraam).
   
  Jejum no Antigo Testamento
                    A história do povo de Israel apresenta muitos exemplos onde se prestou individual e coletivamente o jejum, e, por muitas razões ou motivações mas sempre resguardando a consciência de humilhação e de subordinação por parte daquele que o praticava em face de sua condição perante Deus. Por força de arrependimento, busca de consagração, clamor diante de desafios intransponíveis e uma imersão de retorno ao favor de Deus, indivíduos e povos inteiros realizaram o jejum como uma forma de curvar a matéria e reparar o espírito para Deus; o pecado sempre assolou ao povo e o afastou da linha de condução que o Senhor traçara para ele, e o pecado, dilata a carne de maneira exponencial a ponto de encobrir a visão das disciplinas espirituais e de imergir o homem num 'poço de destruição' da parcela reflexa da imagem de Deus nele introduzida.
                 O jejum foi muitas vezes um meio de refrear os apetites carnais pecaminosos a partir do desempoderamento do próprio corpo cortando-lhe o suprimento normal do alimento por um período de tempo e sincronicamente diligenciando a mente ao Espírito de Deus através de sua Palavra e da oração de auto-renúncia. Muitos são os exemplos pedagógicos de jejuns no Antigo Testamento. Por quarenta dias, Moisés esteve em jejum no Monte Sinai enquanto recebera as tábuas da Lei (consagração, Êxodo 24); o mesmo Moisés instruído por Deus instituiu um Jejum nacional e perene para Israel, o chamado  dia do perdão (Yom Kippur), cujo propósito era a purificação e a propiciação dos pecados (perdão, Levítico 16); por sete dias Davi jejuou para que seu filho fruto de relacionamento pecaminoso não morresse (arrependimento súplice, 2 Samuel 12); até mesmo através do ministério hesitante do profeta Jonas, a atroz cidade de Nínive se humilhou e jejuou arrependida de seus feitos e em face da ameaça do juízo iminente Deus alcançou sua misericórdia. O jejum não deveria jamais ser compreendido como um ritual de cunho dietético, ele não é ritual, nem dieta ou mera abstinência alimentar. Nem mesmo o jejum é um fim em si mesmo, ninguém deve jejuar observando-o como um meio para obter algo para si, um benefício, um favor ou um merecimento, ele é antes, uma ação de esvaziamento da personalidade e das volições onde a Carne exaurida de suas concupiscências cede espaço para o Espírito; sua Palavra e sua ação. Contudo, com o passar do tempo, Israel passou a abandonar os princípios fundamentais para essa prática e passou a decretar jejuns gerais e rituais como uma atividade mecânica e desprovida de qualquer compromisso com a espiritualidade. Esse processo de abandono do sentido se espalhou por todas as classes , líderes políticos, religiosos e o povo em geral e culmina num cenário completamente legalista sem qualquer vestígio de piedade para onde Jesus vem interferir.     

Jesus e o Jejum
                 Jesus surge dentro de uma cultura religiosa completamente desfigurada de seus  moldes inaugurais dentro da história de Israel. Como já afirmado aqui,sacerdotes e templo imersos em corrupção e legalismo, o abandono do papel profético e social por parte de todas as castas tanto religiosas como políticas, e, a grossa camada do povo manipulada de lado a lado como "massa de manobra" contra o dominador externo, o império romano. Neste contexto, a figura de Jesus desponta não por ser necessariamente um homem de conhecimento exaustivo sobre todas as áreas da sabedoria humana, mas uma espécie de singularidade detentora de consciência sobrenatural e antagônica aos padrões da sociedade, e essa figura de paradoxo é o que vai causar tanto para o bem como para o mal temporais os maiores embates que culminarão na sua morte desde a eternidade planejada por Deus. A leitura que Jesus oferece para o jejum é também um dos muitos traços de sua figura renovadora.   

     " Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". "Jesus respondeu: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'". ___ Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse:" Se és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Pois está escrito: "'Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra'" Jesus lhe respondeu: " Também está escrito: 'Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus'"___ Depois, o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o  seu esplendor. E disse-lhe: "Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares". Jesus lhe disse: "Retire-se Satanás! Pois está escrito: 'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a Ele preste culto'.              
                   
                        Antes de começar seu ministério Jesus é submetido a uma duríssima provação, um jejum de 40 dias e 40 noites abandonado em solidão completa no deserto, uma abstinência que em si só já bastaria como pena. Mas, o jejum foi só o prólogo para a verdadeira prova, a tentação de Satanás. A forma como é descrita esta passagem, ensina diversas lições teológicas, mas, o ponto patente que define quanto ao padrão de comportamento que deve ser adotado por quem resolve jejuar é que o aparente abandono, a solidão de Jesus é somente exterior; Jesus sempre esteve ligado ao Pai em oração e entrega permanente, e esta ligação não só o envolveu para que nem se percebesse sozinho, ela o proveu, o sustentou e o fortaleceu. A prova de tudo isto é ostensiva no texto e na autoridade com os quais ele responde às investidas de Satanás. Portanto, nenhuma autoridade maior que o exemplo do Deus Filho para que seja imitado com espírito reto.  A retidão de espírito é uma condição inegociável uma vez que Jesus lança severa censura ao jejum dos hipócritas (Mateus. 6' 16-18), que procuram não só exibir  uma aparência de abatimento e fraqueza, mas, até transfiguram-na em falsa debilidade para que sejam percebidos e considerados piedosos e religiosos pelo povo. Para este tipo de conduta Jesus assegura que a única recompensa dos mesmos é a impressão dos que julgam a partir do que se pode ver; a recompensa dos retos vem de Deus que julga o que está em secreto dos olhos humanos.                           
                          
 Discípulos que não jejuam
                       
                         Mais adiante, Jesus surpreende aos discípulos de João, o batista, que o buscam para indagar-lhe o porquê de os seus discípulos (de jesus) não praticarem o jejum,ao contrário deles e mesmo dos fariseus. Fazendo uso de linguagem metafórica, Jesus afirma-lhes que é impróprio que jejuem os convidados às bodas (os discípulos/os salvos) em presença do Noivo (Jesus); é incompatível com a alegria do instante que se faça abstinência das benesses da festa; o jejum é adequado quando os convidados não têm o Noivo em companhia, quando os salvos percebem que fora lhes tirado a alegria da convivência com o Noivo e do vislumbre da iminente celebração das bodas. Jesus lança fundamentos para os tempos em curso até a sua vinda para estabelecimento do Reino ao mostrar que a tristeza pelo distanciamento dos propósitos de Deus é, ou deve ser a motivação, o impulso direcionador do fiel ao jejum; a retirada transitória de Jesus do tempo humano não pode tomar do crente a alegria expectante da volta do Cristo, por que o Espírito lhe foi enviado para consolo e doutrina, mas ela (a ausência do palpável), deve lançá-lo ao contato contínuo com a Palavra de Deus e a oração pois, de fato a maior das solidões é o abandono a Deus ou, pior, o abandono de Deus. 
                       A Palavra é a manifestação escrita ou narrada do próprio Deus, resguardando-a no íntimo do seu ser, ninguém estará destituído de graça. Entretanto, muitas vezes o homem através de atitudes rebeldes e sede de satisfação autônoma entristece ao Espírito, encobre a sua ação nele. Ao retirar-se da provisão do Espírito, Cristo será também no homem tornado apenas uma pálida imagem de piedade restrita em si mesma, incapaz de inspirar renúncia, então, jejum é uma rota de escape que pode ser providencial quando o indivíduo encontra-se no limiar da abastança do pecado e da escassez de Deus em sua vida. O jejum foi praticado desde os primórdios da igreja e Cristo é o estabelecedor da norma funcional para tal prática,e, o Espírito Santo fala à consciência dos salvos sobre o estado da sua fé, sua necessidade ou não de renovação e avivamento.

 Quando e para  quê

                        Conscientes de que o próprio Espírito é quem nos conduz ao Jejum os crentes dos dias de hoje devem sempre buscar entender se o aparente constrangimento que os move circunstancialmente sejam eles individuais ou coletivos, são legítimos ou mera vaidade, ou ainda, uma tentativa espúria de barganha junto a Deus; também devem estar seguros de suas condições de saúde, se elas permitem a privação do alimento e por qual período de tempo, até porque, mais do que a supressão do pão, o espírito que está inserido na motivação para o jejum é o de ferir a própria alma tão submersa em corruptibilidade, sensualidade e rebeldia contra Deus. O jejum como abstinência é um aditivo eficaz para levar à esse fim por meio do enfraquecimento da carne, mas, é certo que o indivíduo deve buscar de todas as formas o permanente autoexame de sua própria consciência pela via mais que eficaz que é a oração, a súplica a Deus para que o próprio Espírito lhe traga o testemunho fiel e que não permita ser somente o homem o juiz dessa averiguação. Por fim, o jejum é sim uma prática atual e salutar para o crente, para a igreja, mas, terminantemente, ele não aponta nem se encerra no homem, conquanto em Deus.
 




Leitura recomendada: Fome por Deus- Buscando Deus por meio do jejum e da oração/ John Piper_ Editora Cultura Cristã.












sábado, 19 de março de 2016

Num mundo de aflições

               


          

           








               Tristeza e aflição são coisas às quais o  ser humano indiscriminadamente está sujeito, e o cristão como qualquer outro não está imune, ele também enquanto vivo padece e recebe os efeitos e consequências nocivas das ações e reações violentas suas, de outros e mesmo aquelas que em primeira análise não identificamos suas origens e razões de ser. É certo que não concordo com o adágio popular fatalista que sentencia que 'viver é sofrer', mas, o próprio Cristo afirmou "...no mundo tereis aflições..."* e portanto, estou pronto a defender o argumento que a ausência de um sentimento de tristeza no cristão em certas circunstâncias não é uma recomendação para a fé cristã, para o ser cristão . Não é natural, não vem do Antigo ou do Novo Testamento, e é uma característica produzida mais pelo estoicismo, ou um estado psicológico produzido por certas seitas, do que pelo cristianismo. 
              Não há nada mais consolador e instrutivo, ou encorajador, ao ler as Escrituras, do que observar que os santos de Deus eram sujeitos às fraquezas humanas e as experimentaram como qualquer um de nós agora experimenta; conheceram a dor e a tristeza, souberam o que é sentir solidão, abandono e desapontamento. Temos exemplos abundantes disso nas Escrituras; e o vemos na vida do apóstolo Paulo, talvez mais do que em qualquer outro. Ele estava sujeito a estas coisas, e não escondia o fato. Ele ainda era muito humano, apesar da sua extraordinária fé e das notáveis experiências que teve em sua comunhão com o Senhor. Pois bem, estas coisas podem ser encontradas ao mesmo tempo, e o cristão jamais deve considerar-se como alguém que está isento de sentimentos naturais. Ele tem algo em si que lhe permite mais que elevar-se acima de todas essas coisas; mas a glória da vida cristã é justamente que podemos viver como que caminhando acima e em meio a essas coisas, ainda que as sintamos e por elas nos abatamos. Não é uma ausência de sentimentos ou emoções. Esta é uma linha divisória de extrema importância, o cristão é provado em sua vida e isto pode o afligir profundamente em seus limites físicos, psicológicos e espirituais mas a tarimba da caminhada cristã oferece para ele um suporte que vai muito além da ilusória sobrelevação esotérica, da reabilitação científica e da moderna fraude proposta pelas redes de autoajuda. O mesmo Cristo que iniciou a frase acima citada de forma fatídica, exorta-nos a um bom anelo n'Ele e assegura-nos sua associação conosco na caminhada " ...,mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". Esta foi a promessa que consolou aos seus discípulos e deve também nos envolver, uma vez que nos identificamos com Jesus enquanto testemunhamos nossa crença e com os discípulos enquanto praticamos as suas boas obras. 
             "...para que em mim tenhais paz."
             Quando Jesus Cristo conclui seu discurso no Evangelho de João capítulo 16 prometendo sua vitória que logo cumpriu-se na ressurreição, ao falar de sua vitória sobre o mundo Ele evidentemente fala da derrota de Satanás e da morte, mas aprofundando-nos na busca do significado abrangente de sua fala percebemos a vitória sobre as tentações, provações, dores e o sofrimento multiformemente manifesto e a corruptibilidade do corpo e do espírito, todas as contenções que sempre nos atingiram e mesmo depois de sermos tomados por Deus para Cristo, ainda nos afrontam agora com o intuito agravante de nos querer retirar da paz exclusiva de Cristo. Por isto, o senhor nos instiga a acolher agradavelmente sofrimentos que experimentaremos no mundo e à que permaneçamos n'Ele porque aquela excelsa paz que excede a todo entendimento e que apenas Ele possui está reservada em grande medida para que dela partilhemos como retribuição por nossa fidelidade e perseverança. O mundo ímpio sem duvida vai entender essa atitude como resignação ou fracasso precoce e voluntário, mas este mesmo mundo derrotado, preso ao empirismo e a autonomia, por mais que progrida em encontrar tratamentos e curas para tantos males é o mesmo mundo que jamais contribuiu para diminuir a incidência do mau que é a causa primária do sofrimento.   
          O cristianismo para aquele que foi tomado do mundo para Cristo é o testemunho da revelação sobrenatural de Deus para a regeneração e restauração de seus eleitos (e esta assertiva em nada deve constrangimento a céticos e racionalistas ateus); o fundamento da fé cristã está atado às Escrituras Sagradas em sua integralidade tanto textual  como profética, crer para o cristão é confiar em tudo que a Bíblia doutrina, aconselha e vindica. É  a Bíblia Sagrada o Farol que iluminará o caminho mais escuro, na hora mais adversa e na situação mais intransponível; quando sofremos perdemos a capacidade completa da visão e do pensamento, nos faltam até mesmo as palavras para a mais simplória oração. É  nessas horas, que a Palavra de Deus é o socorro bastante, e, somente ela o é, jamais a perca do alcance; é quando imaginamos que para ela não devemos priorizar tempo em meio a tantos flagelos, que devemos de fato derrotar o inimigo em nossa mente. Leia a Bíblia e pratique a fé que ela testifica  









   Evangelho de João Capítulo 16.33
             "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu vencí o mundo"

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Um breviário de 'O Regresso' #alerta de spoiler***

               

Um extrato breve e subliminar reflexão a partir de 'The Revenant', 'O Regressso', o filme.


                      Acima imagens do filme 'O Regresso'. Na última delas, de cima para baixo, uma junção do personagem histórico retratado e do ator (Leonardo Di Caprio) que o protagoniza.







                         Quando a morte é escape do sofrimento
                          e a vida cobra mais da alma
                          do que a linha média das esperanças,
                          qual força mais motiva à perseverança dos instintos humanos?

                          O desejo de prevalecer e impor-se sobre o fracasso,
                          ou, o desejo por vingança travestido de legalidade?
                        _ Sem dúvida, muitas manifestações e volições subterrâneas
                          conduzem o homem em busca de descanso.
                          
                          Talvez a vingança, o fascínio por ela
                          seja como um ímpeto maior e dominante.
                          Mas, é certo que não há força ou domínio superior
                          à liberdade de consciência, e,
                          em face dela, o revide iminente
                          perde todo galardão e qualquer vislumbre de satisfação
                          quando o Deus que até então o conduzira
                          mostra sua face e sua justiça.
                       


                 The revenant, de Alejandro González Iñarritu, com Leonardo Di Caprio e Tom Hardy, faroeste, aventura, Fox filmes.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

A videira verdadeira

            

Leitura do Evangelho segundo João 15. 1-17.


                        " Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos pela palavra que tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dá fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto se não permanecerem em mim.
                          "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e será concedido. Meu pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto, e assim serão meus discípulos. ______                         " Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço. Tenho dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aqu'Ele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que Eu ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu Senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai Eu tornei conhecido de vocês. Vocês não me escolheram, mas Eu os escolhi, para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai conceda a vocês o que pedirem em meu nome. Este é o meu mandamento: Amem-se uns aos outros.






                      O Antigo Testamento muitas vezes utiliza o vocábulo "videira" para referir-se metaforicamente a Israel e seu papel na eleição de Deus como a via ou forma de pertencimento ao povo de propriedade exclusiva do próprio Deus e a manifestação visível da glória de Deus em meio as nações; pertencer a Israel seria pertencer ao povo escolhido e com quem Deus fez a aliança onde Ele incondicional e amorosamente ofereceria a proteção, a provisão e a direção espiritual e histórica. Entretanto, é quando consideramos o percurso histórico de Israel e sua incapacidade de observar a aliança e produzir frutos sadios, também percebemos o seu fracasso como a videira plantada e cultivada pelo Senhor; Israel quase sempre respondeu com infidelidade e rebeldia ao amor de Deus. O eco cada vez mais presente de palavras de Juízo divino parece ser o anúncio da ruína iminente e definitiva sobre a nação, mas, é nesse contexto de desesperança, de queda ante os impérios invasores e de corrupção abundante por parte das autoridades remanescentes que Jesus surge e toma para si o 'Eu Sou' proclamando-se como " a videira verdadeira". Um texto específico que conecta videira e Jesus Cristo e já no Antigo Testamento preconizava essa tomada de autoridade e cumprimento das expectativas messiânicas no filho de Deus é o Salmo 80: 
"Restaura-nos, ó  Deus dos Exércitos;  
Faze-nos resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos.
Do Egito trouxeste uma videira; expulsaste as nações e e a plantaste. 
Limpaste o terreno, ela lançou raízes e encheu a terra. 
Os montes foram cobertos pela sua sombra, e os mais altos cedros, pelos seus ramos. 
Seus ramos se estenderam até o Mar, e os seus brotos, até o Rio.
Por que derrubaste as suas cercas, permitindo que todos os que passam apanhem as suas uvas?
Javalis da floresta a devastam e as criaturas do campo dela se alimentam. 
Volta-te para nós, ó Deus dos Exércitos! Dos altos céus olha e vê! Toma conta desta videira,
 da raiz que a tua mão direita plantou, do filho [tronco/ramo] que para ti fizeste crescer!
Tua videira foi derrubada; como lixo foi consumida pelo fogo. Pela tua repreensão perece o teu povo!
Repouse à tua mão direita, o filho do homem que para ti fizeste crescer.
Então não nos desviaremos de ti; vivifica-nos, e invocaremos o teu nome. 
Restaura-nos, ó Senhor, Deus dos Exércitos; faze resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos."
                       Uma reflexão honesta pode explicar o porque de um povo a quem Deus escolhera se revelar e tomar para si, que ouvira as suas palavras e seus conselhos veio a cair em desgraça tantas vezes e jamais fora capaz de responder com bons frutos ao amor primordial de Deus. O homem natural não consegue produzir por si mesmo, nada que sua natureza caída perdera ou encobrira. Uma vez que a iniciativa de Deus de trazer de volta o homem que um dia preferira rejeitá-lo colocou agora em meio aos dois uma aliança embasada no cumprimento de estatutos e convenções, e estas por mais que sejam benéficas ao homem e leves no cumprir, não tardará a traição de uma das partes, logo elas se deparam por iniciativa humana com artimanhas escapistas, dureza de coração e rejeição; o homem natural não consegue ser duradouramente fiel nem a si mesmo quanto mais àquele que sempre o amou e continuará amando. É tragicamente irônico que o amor fiel tenha misteriosamente produzido como resposta a infidelidade.
                   Cristo ao contrário, é a 'videira verdadeira' porque os que n'Ele creem já lhes os são conduzidos por Deus, e o Espírito Santo que sela o batismo baseado no fundamento do credo sustenta e alimenta a fé do crente, que se fosse condicionada à autonomia do homem, tanto no passado como no presente, esta não vingaria, não produziria nada além de frutos amargos ou apodrecidos, cardos e espinhos; Cristo é a videira porque suas palavras são como o mais fértil húmus que soergue do sepulcro aqueles que mortos em delitos e pecados contra Deus são triturados em sua autossuficiência e seu desejo de emancipação da soberania do Criador iniciados em Adão, enxertados na videira/Cristo recebem a nutrição  necessária e a capacidade de produzir frutos abundantes. Permanecer ligado à videira/Cristo é acolher e aplicar-se a exercitar os mais perfeitos afetos do Filho; é atar o coração a um irresistível sentimento de querer fazer atos de louvor ao nome de Deus e dar provas de satisfação n'Ele.
                   Ao pronunciar o discurso e as exortações dos primeiros 17 versículos do capítulo 15 do Evangelho de João, Jesus não quer somente prevenir os seus discípulos, a sua audiência, e conduzi-los por uma reflexão que os amedronte em face da possibilidade do juízo. Jesus está aqui tratando também uma questão patente e emergente, dentre seus discípulos há um que é um ramo ainda não limpo, não podado, um ramo infrutífero que compromete a uniformidade produtiva da videira, Judas. Jesus aqui prepara seus discípulos para uma questão a ser tratada com emergência, a necessidade de permanente vigilância da igreja ora embrionária em permanecer ligada à videira/ Cristo e à compreensão do fato de que Deus, o agricultor, é aquele que faz a poda e limpa a igreja, os ramos visíveis da Videira, e, cabe à igreja atender a vontade de Deus e limitar-se a agir dentro dela. Não se pode entretanto, negar o fato de que em casos como o de Judas, as palavras de Jesus têm a intenção de tocar-lhe o coração e demovê-lo de sua decisão corrupta. A dificuldade de entendermos a simultaneidade da soberania de Deus e a responsabilidade humana nos encobre por vezes a chance de ver o amor na ordem dos propósitos de Deus, mas é certo que Ele enviou seu filho, o mais puro dos homens para ser o mestre, o mentor de Judas, logo, jamais o mesmo Judas poderia argumentar desconhecer a caridade e o amor ao próximo. 
                     Mas uma questão fundamental surge impositivamente do texto do Evangelho quando pensamos sobre a videira e Cristo como a sua perfeita consumação, quais são os frutos que o crente produzirá se ligado à videira verdadeira?__ De uma coisa pode-se ter certeza, conforme João Calvino pontua acerca deste ponto das Escrituras,"somos, por natureza, estéreis e áridos, a não ser que sejamos enxertados em Cristo, e extraiamos dele um novo poder, o qual não procede de nós mesmos"*_ somente ligados, enxertados em Cristo,  os crentes podem dar frutos, e o próprio Cristo afirma no e o Evangelho de Mateus expõe, "a árvore boa  não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons", ao contrário, separado de Cristo  o homem apenas reflete a natureza própria da queda. Os frutos que podem ser esperados da união do crente com Cristo começarão a ser percebidos através da obediência e da permanente presença do amor de Cristo nos seus atos visíveis e invisíveis. O próprio Jesus Cristo deixa explícito que a sua própria obediência ao Pai assegura-lhe a permanência no amor d'Ele e que a obediência tem seu ponto culminante ao manifestarem também os seus discípulos, ontem e hoje, por todos seus semelhantes; esse amor é um fruto primordial e fundamental que agrada e atrai a amizade do Filho e agrada Deus pai.      
                      O teólogo D. A. Carson* ensina: "A função do pai, o agricultor celestial, é dupla. Considerando a ordem inversa: Primeiro, Ele poda ou apara todo [ramo] que não dá fruto. Nenhum ramo produtivo é poupado. Sem dúvida o propósito do pai é amoroso- é assim para que cada ramo dê mais fruto ainda- porém o procedimento pode ser doloroso. A ideia não é diferente da que foi apresentada em Hebreus 12. 4-11, mas está arranjada em termos de outro modelo: o Senhor disciplina os seus da forma que um pai disciplina seus filhos. Tudo isso é "para o nosso bem, para que participemos da sua santidade "Hb. 12.10". Segundo, o Pai (Jesus diz) corta todo ramo que, 'estando em mim, não dá fruto', isto é, Ele livra-se da madeira morta para que os ramos vivos e produtivos possam ser claramente distinguidos deles, e possam ter mais espaço para crescer..._____ Muitas vezes, crentes que são reconhecidos como férteis e produtivos passam pelo que comumente se chama de "noite escura da alma" e são como que moídos por transes físicos ou provas espirituais  nesse processo de poda e disciplina, mas deve-se evitar quaisquer qualificações imediatas  disso como a existência de graves pecados contra as demandas presentes da igreja, isso até pode acontecer, mas, não é padrão de ação de Deus sobre o crente. As vezes, como o processo de poda e limpeza que Deus  realiza visa tornar o crente mais parecido com Jesus, é um processo que destina-se a promover maior santificação pessoal - A disciplina recai também sobre dificuldades acerca da progressão da fé na Palavra e em sua revelação, sobre vaidades, sobre pensamentos autônomos e outros semelhantes que podem paralisar o desenvolvimento da santificação.
                        Outro fruto que se pode esperar dos crentes segundo a ligação permanente deles com Cristo está indicado no versículo 7 e refere-se ao que eles podem e certamente pedirão a Deus. É evidente que o Senhor não concederá aquilo que lhe for pedido para o louvor e as demandas egoístas do homem, também é certo que tais pedidos não constituirão, ou não  deveríam constituir o padrão daquilo que será requisitado junto a Deus (árvore boa dá bons frutos), uma vez que os crentes ligados à videira já passaram por estágios de regeneração e renovação das suas mentes. As petições que o Evangelho assegura com fluidez natural são simultaneamente louváveis a Deus , santificadoras e edificadoras dos crentes tanto como ramos individuais como igreja. Logo, cabe ao crente sempre que intentar buscar a mercê de Deus, procurar antes  saber se este favor, se esta graça exalta a Deus em princípio. Mais adiante no tempo, o apóstolo Paulo, conforme lê-se na epístola aos efésios, completa: "...Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade", v.C. 5. 8,9.
                        Atualmente todavia, muitas igrejas fazem uma interpretação de via única ao proclamar o discurso em que Jesus Cristo se compara a videira a plenos pulmões e que o intuito d'Ele é exclusivamente enviara seus discípulos ao mundo, para fazer novos discípulos. Isto não está equivocado como conceito, mas, a aplicação moderna deste texto é a do envio imediato dos novos membros da igreja para fazer um evangelismo mais panfletário e emergente, sem que estejam já preparados para a missão de apresentar Cristo aos ímpios, pois Cristo está muito além de um mero artigo de fé que se possa dispor como amuleto, e a igreja não é um ajuntamento de aderentes a um sistema filosófico alternativo para onde concorrem os que não tem expectativa. Claro que o fazer discípulos não exclui o evangelismo como se pratica hoje, mas, uma leitura atenta nas passagens dos Evangelhos onde Jesus se relaciona com os seus discípulos identificará a necessidade do acompanhamento pessoal, do discipulado como passos posteriores ao anúncio da Palavra. Então, o crente já experimentado deve estar ciente e pronto para abdicar de tempo para servir a Cristo, ensinando aos ímpios e amando-os (fruto do amor) como ao seu Senhor, pois tal ação visa aumentar e prolongar os ramos frutíferos da videira, como outrora acontecera com ele por intermédio da abnegação e amor de outrem. 
                        O evangelismo tem sim suas semelhanças com o chamado inicial de Jesus aos seus discípulos, mas, apenas uma igreja que tenha de fato sido enxertada na videira verdadeira e que ramo por ramo receba e ofereça dos nutrientes próprios da videira/Cristo será de fato frutífera além do aspecto aparente. De nada adianta impor medo e cobrar crentes imaturos e desnutridos para que deem frutos no evangelismo ('almas para Cristo') por mero nominalismo__ Tais motivações têm mais inchado a igreja e tornado-a um celeiro de hipócritas.__ A frutificação que provem da videira é a única que produz discípulos dignos de apresentá-la aos perdidos, e assim gerar novos discípulos. A questão é simples no fim das contas, ou Cristo ou nada para transformar o homem, e a transformação começa por acabar com a aridez e infertilidade do 'eu' sem Ele, para depois buscar o próximo.



*Evangelho segundo João, livro 2/ João Calvino, Editora Fiel_ fonte bibliográfica de suporte.
**Comentário de João/ D. A. Carson, Shedd publicações_ fonte bibliográfica de suporte.


























       

                  

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Sem graça e sem respeito.

            







Uma das muitas charges que motivaram o atentado

Capa da edição levada hoje às bancas





                No dia 7 de janeiro de 2014, a cidade de Paris foi palco de um chocante atentado contra um jornal satírico de ideologia política de esquerda, onde 12 de seus funcionários foram mortos sob o ataque de 2 irmãos de origem argelina que convertidos ao islamismo e recrutados por radicais enquanto um deles  encontrava-se ainda preso por delito anterior. Além dos mortos no atentado ao jornal e a caçada posterior aos terroristas acabou em somar o número de 18 mortos, dentre eles, os autores do ataque Cherif Kouachi e Said Kouachi, que se autoproclamaram na iminência da morte como vingadores do profeta (Muhammad, Maomé), do islã e de Alá. O motivo ou motivação para o ataque terrorista e todo o ódio contra o jornal e seus realizadores: a persistente publicação de sátiras retratando personagens e símbolos sagrados para o islã em situações constrangedoras, aviltantes e ofensivas aos praticantes da religião muçulmana. 
                   A prática habitual de ridicularizar o sagrado no entanto, se estende à todas as demais instituições religiosas, esse ecumenismo do ultraje já causou polêmicas e a condenação por parte de judeus, católicos e outros que foram vítimas da acidez crítica autopromovida com a pecha de humor. 
                   Hoje, um ano depois, o Charlie Hebdo (nome do jornal) continua sendo publicado, sua redação foi transferida de local, este agora é de desconhecimento público e é guardado sob forte proteção policial. Mas se por um lado parecem negativas as consequências provocadas após o ataque, por outro, cabe registrar que cresceu de forma exponencial o número de leitores/anunciantes do jornal, assim como a sua influência política. Da mesma forma, hoje o Charlie Hebdo continua a provocar a religião, seja ela qual for, com sua mordaz militância de caráter anticlerical sem se importar com o mal que ela provoca no outro e o outro mal que ela atrai contra si mesma. 
                   Apesar de a França nunca ter sido um porto seguro de tolerância religiosa e das liberdades de expressão referentes ao religioso, ela arroga para si uma particular e "santa" posição de respeito ao indivíduo e à concórdia pomposamente consagrada pelo lema utópico e controverso desde a sua concepção da Revolução Francesa: Liberté, egalité, fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade). Em verdade, como poucos, o país é um reduto do Humanismo e das humanidades, e do laicismo. E, se hoje a França promove uma flagrante xenofobia contra os muitos muçulmanos residentes em seu território, sobretudo em Paris, não faz nada mais do que outrora fizera contra outros sob pretextos e impulsos de caráter religioso.
                  Mas, quanto às vítimas primárias do atentado em si, algumas poucas considerações se fazem salutares e indispensáveis para se buscar uma melhor compreensão não só desse evento em específico, mas, de outros com similaridades que vez por outro ocorrem em nosso mundo caótico. Pretendo realizar tais considerações numa sequência de perguntas e respostas reservando o pleno direito de ser discordado e mais que tudo, antecipando-me no também direito de contrapor-me ao atentado e a qualquer ação violenta que atente contra a vida de quem quer que seja, qual tenha sido sua ofensa e sua origem; qualquer justificativa é para tanto, injustificável.

* O Charlie Hebdo faz um humor que a liberdade de expressão resguarda?
_ Não percebo humor no conteúdo das charges do jornal. Mas, antes de tudo, o humor pode ser uma forma de expressão através da qual atinge-se pela crítica indireta toda e qualquer instituição social existente, e, as instituições religiosas não constituem exceção num mundo ideal de liberdade de expressão. Entretanto, já pontuara o filósofo também francês Jean Paul Sartre: "a liberdade de Expressão precede de responsabilidade e respeito", do contrário, torna-se ofensa e libertinagem. O flagrante caso de desrespeito e agressão ao Islã rompeu abruptamente essa barreira delimitadora, e portanto, atraiu contra si a fúria desproporcional de extremistas que a qualquer hora poderiam vir manchados ou não pelo viés religioso  

* O Islã é mau?
_ Seria leviano afirmar que qualquer fé ou movimento religioso de grande vulto é mau, pratica o mal ou prega a violência. Em princípio, porque toda religião ensina o homem a se inserir na história com vistas a promover a restauração de valores fraternos e de convívio que possam estar sob ameaça e também o conduzem à busca de uma exaltação pessoal. As muitas interpretações ou digressões realizadas pelo próprio homem é que diferem e se contrapõem causando choques e disparates na forma e no meio pelo qual se levará esse processo de tornar real o ideal. O islã como um todo, como uma fé ou religião, não pode ser responsabilizado pelo caso francês nem pelos diversos ataques terroristas os quais temos nota, dentro dele muitos 'islamismos' brotam constantemente e seus interesses pouco ou nada estão suportados pela "ortodoxia do Islã", imaginemos por exemplo, se todos os muçulmanos do mundo pensassem e agissem movidos por um mesmo impulso de ódio contra o ocidente... estaríamos como que perdidos;  em verdade, todas as grandes religiões do mundo embora possuam pontos de credo convergentes, quando as observamos com mais acuidade, percebemos que elas são como colchas de retalhos.

* A religião é intocável? 
_ De forma alguma a religião constitui-se numa instituição que transcende o alcance da critica ou mesmo da censura em casos de flagrante abuso. Como qualquer outra deve conviver em condição de igualdade de respeito e de harmonia com os direitos e deveres da sociedade. O caso do Charlie Hebdo, assim como tantos outros que se praticam contra as religiões, pela agressão a símbolos e personagens devem ser compreendidos também pelos óculos dos agredidos, não somente pela visão crítica de enfrentamento gratuito ou não, daquele que agride. A religiosidade para aquele que crê, fala daquilo que é mais sublime e essencial no homem. Não importa o tamanho visível da fé, os movimentos e gestos realizados, a religião é a chama relutante do homem ideal que reside naquele que ainda que nublado ou mesmo entenebrecido, vê por efeito da fé, por força da esperança aquilo que ora é só vislumbre audacioso. A religião quando violentada, ainda que não personalizada, não personificada pode suscitar na mente de qualquer anônimo, a expressão do atingido. Não bastasse isso, ao violentar aquele que por mandato de fé deve promover a harmonia e a comunhão com o semelhante, incorre-se no risco de retirar do mesmo, os obstinados ideais que uma grande parte da humanidade já abdicou.
                   
                  Por fim, olhando de hoje para trás, percebemos que o mundo cresceu na promoção da intolerância e pelas mais diversificadas razões o ódio tem causado vítimas, guerras e rumores de guerras se multiplicam, e, não é a capa da edição de hoje do Charlie Hebdo retratando a figura de Deus armado e com os pés manchados de sangue, com a frase: "o assassino ainda está solto", que vai proporcionar qualquer melhoria nas relações humanas, pelo contrário, ela tende ao aumento do ódio. Quando consideramos muitos casos de generalizações que definem o todo como uma unidade monolítica (como quem define toda uma religião como má pela ação inconsequente de um indivíduo ou um grupo), muitas vezes estamos diante de um equívoco de julgamento de corrente da ignorância. No caso do CH, tal prática é fruto de um ativismo político anticlerical claro e inaceitável. O libertino jornal que certa vez se autointitulou como irresponsável com a intenção de justificar suas agressões, é um veículo de comunicação de instrumentalidade política e para tanto, precisa enquadrar-se nas mesmas regras que regem as instituições políticas que intentam estabelecer influência e governo na sociedade. 









Este é um texto atípico dentro da proposta inicial deste blog, e, foi com muita relutância que decidimos  trazê-lo à tona. Cremos no entanto, que muitas questões compreendidas dentro desse tema e mesmo as que não foram tratadas aqui, acabam por envolver muito do que temos vivido no Brasil e no mundo. Cabe um pedido de desculpas àqueles que estão acostumados e preferem outra temática em nosso textos, bem como o registro de que pessoas como as aqui retratadas com protagonismo são ainda que nos machuquem, merecedoras de nossas orações por sua redenção pelo Deus que elas próprias julgam estar destronando de sua majestade










sábado, 2 de janeiro de 2016

Um lugar onde as buscas atingem seu fim.



                 Todos os anos os pais de Jesus viajavam para Jerusalém a fim de participar da festa da páscoa. Quando o menino estava com doze anos, fizeram a peregrinação de costume. Ao terminar a festa, eles tomaram o caminho de casa, e o menino Jesus ficou para trás, em Jerusalém, mas seus pais não perceberam. Pensando que ele estava em algum lugar com os outros peregrinos, viajaram um dia inteiro e, então, começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos, mas foi em vão. Por isso, voltaram a Jerusalém para ver se o encontravam.
                  No dia seguinte, eles o encontraram no templo, assentado entre os líderes religiosos, ouvindo-os e fazendo perguntas. Os mestres estavam deslumbrados com Ele  e impressionados com as suas respostas precisas. Mas José e Maria ficaram preocupados e aborrecidos.
                  Sua mãe repreendeu-o: "Por que você fez isso conosco? Seu pai e eu estávamos desesperados, procurando você!".
                  Ele disse: "Por que estavam procurando por mim? Não sabiam que Eu tinha de estar aqui, tratando dos assuntos do meu Pai?". Mas eles não tinham ideia do que Ele estava falando.
                  Então, Jesus voltou para Nazaré com eles. Era um filho obediente. Sua mãe guardava todas essas coisas no coração, enquanto Jesus crescia, com saúde e sabedoria, abençoado por Deus e pelos Homens.*      

Paráfrase do Evangelho segundo Mateus Capítulo 2, Versos 41 a 52.





* Extraído de A Mensagem, por Eugene Peterson.