O jejum é um antiquíssimo costume de origem e aplicação religiosa e mística amplamente disseminado nas mais distintas culturas e povos ao redor do mundo, tendo também distintas nuances quanto ás motivações e objetivos em perspectiva; é também uma prática ainda muito difundida e posta em exercício pela igreja cristã em suas mais diversas vertentes e matizes em países que como o Brasil até então preservam tradições de herança religiosa. Sobretudo, pensando no exemplo brasileiro onde se respiram ventos antigos soprados pela formação catequética original do catolicismo então imposto em tempos de colonização da nova terra, no período de 40 dias que compreendem o término do festival nacional mais profano e o Domingo de páscoa, liturgicamente denominado de quaresma, esse ensino da igreja é posto em evidência e é mais discutido e percebido por nossos olhos e ouvidos. Mas, em verdade, o que Deus, em sua voz escrita ensina e prescreve aos cristãos, e que é válido para hoje.
Antes de aprofundarmo-nos um pouco nesta temática, cabe uma pequena exposição dos fundamentos para a prática do jejum para as 3 grandes religiões monoteístas do mundo, as quais, suas origens remontam ao patriarca Abraão, sendo que quando tratar-se do Cristianismo, aqui se enfocará o seu ramo de maior densidade populacional, o catolicismo romano.
Judaísmo- os judeus praticam o jejum durante o Yom Kippur (dia do perdão), que é tido como o Sábado dos Sábados, ou Shabat HaShabatot, o mais sagrado dos dias dentro do calendário judaico e que lembra o tempo em que Moisés desceu do Monte Sinai e encontrou o povo hebreu em prostituição e adoração ao bezerro de ouro. Os rebeldes foram punidos mortalmente, o povo perdeu a permanente presença de Deus como aquele ia adiante deles e só depois de grande contrição e arrependimento foram perdoados e convocados a caminhar rumo à Terra Prometida. Para os judeus religiosos , ainda hoje, deve ser um dia voltado para a consternação e reflexão, e seu jejum deve ser observado desde o pôr do Sol de um dia até o pôr do Sol seguinte.
Cristianismo (católico)- No catolicismo o jejum é uma convenção de fé compreendida dentro dos dias e tempos penitenciais que são as Sextas e quaresmas. É uma prescrição legislativa do Código de Direito Canônico, documento autoritativo da igreja. A orientação da igreja romana em consonância com a CNBB* é de que o fiel se dedique à oração, renuncia de si mesmo e prática da caridade e da piedade, o que mediante a aplicação dessas recomendações, torná-lo á apto para uma melhor execução de suas responsabilidades pessoais. No jejum o fiel busca participar das agonias de Cristo na cruz. O CDC da igreja católica define o jejum como obrigatório e como lei divina aos maiores de 18 e menores de 60, excetuando-se os enfermos e obriga os que já completaram 14 anos de idade a praticarem alguma forma de abstinência.
* Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Islamismo- O Jejum (jejum ritual ou 'Saum') para os muçulmanos é um dos 5 pilares aos quais o fiel está obrigado a praticar. O jejum é indicado para os dias do período do Ramadã, o nono mês do calendário islâmico onde se deve renovar a fé mediante a prática da caridade, de uma imersão maior à fraternidade e convívio familiar pedagógico. Segundo o Alcorão, "o Ramadã foi o mês em que foi revelado o Alcorão; orientação para a humanidade e evidência de orientação e discernimento". Obrigados ao jejum estão todos exceto enfermos, grávidas, lactantes, as mulheres em período de fluxo e idosos. O tempo de observância é de desde o nascer do Sol ao ocaso e aqueles que durante o jejum fizerem ingestão de alimentos ou água, ou praticarem o ato sexual incidem em quebra e anulação do ritual, sendo que serão então obrigados ao jejum contínuo de 60 dias consecutivos. O espírito por trás da norma descreve o jejum como um tempo de disciplina e seu fim é o perdão dos pecados (dzamb/haraam).
Islamismo- O Jejum (jejum ritual ou 'Saum') para os muçulmanos é um dos 5 pilares aos quais o fiel está obrigado a praticar. O jejum é indicado para os dias do período do Ramadã, o nono mês do calendário islâmico onde se deve renovar a fé mediante a prática da caridade, de uma imersão maior à fraternidade e convívio familiar pedagógico. Segundo o Alcorão, "o Ramadã foi o mês em que foi revelado o Alcorão; orientação para a humanidade e evidência de orientação e discernimento". Obrigados ao jejum estão todos exceto enfermos, grávidas, lactantes, as mulheres em período de fluxo e idosos. O tempo de observância é de desde o nascer do Sol ao ocaso e aqueles que durante o jejum fizerem ingestão de alimentos ou água, ou praticarem o ato sexual incidem em quebra e anulação do ritual, sendo que serão então obrigados ao jejum contínuo de 60 dias consecutivos. O espírito por trás da norma descreve o jejum como um tempo de disciplina e seu fim é o perdão dos pecados (dzamb/haraam).
Jejum no Antigo Testamento
A história do povo de Israel apresenta muitos exemplos onde se prestou individual e coletivamente o jejum, e, por muitas razões ou motivações mas sempre resguardando a consciência de humilhação e de subordinação por parte daquele que o praticava em face de sua condição perante Deus. Por força de arrependimento, busca de consagração, clamor diante de desafios intransponíveis e uma imersão de retorno ao favor de Deus, indivíduos e povos inteiros realizaram o jejum como uma forma de curvar a matéria e reparar o espírito para Deus; o pecado sempre assolou ao povo e o afastou da linha de condução que o Senhor traçara para ele, e o pecado, dilata a carne de maneira exponencial a ponto de encobrir a visão das disciplinas espirituais e de imergir o homem num 'poço de destruição' da parcela reflexa da imagem de Deus nele introduzida.
O jejum foi muitas vezes um meio de refrear os apetites carnais pecaminosos a partir do desempoderamento do próprio corpo cortando-lhe o suprimento normal do alimento por um período de tempo e sincronicamente diligenciando a mente ao Espírito de Deus através de sua Palavra e da oração de auto-renúncia. Muitos são os exemplos pedagógicos de jejuns no Antigo Testamento. Por quarenta dias, Moisés esteve em jejum no Monte Sinai enquanto recebera as tábuas da Lei (consagração, Êxodo 24); o mesmo Moisés instruído por Deus instituiu um Jejum nacional e perene para Israel, o chamado dia do perdão (Yom Kippur), cujo propósito era a purificação e a propiciação dos pecados (perdão, Levítico 16); por sete dias Davi jejuou para que seu filho fruto de relacionamento pecaminoso não morresse (arrependimento súplice, 2 Samuel 12); até mesmo através do ministério hesitante do profeta Jonas, a atroz cidade de Nínive se humilhou e jejuou arrependida de seus feitos e em face da ameaça do juízo iminente Deus alcançou sua misericórdia. O jejum não deveria jamais ser compreendido como um ritual de cunho dietético, ele não é ritual, nem dieta ou mera abstinência alimentar. Nem mesmo o jejum é um fim em si mesmo, ninguém deve jejuar observando-o como um meio para obter algo para si, um benefício, um favor ou um merecimento, ele é antes, uma ação de esvaziamento da personalidade e das volições onde a Carne exaurida de suas concupiscências cede espaço para o Espírito; sua Palavra e sua ação. Contudo, com o passar do tempo, Israel passou a abandonar os princípios fundamentais para essa prática e passou a decretar jejuns gerais e rituais como uma atividade mecânica e desprovida de qualquer compromisso com a espiritualidade. Esse processo de abandono do sentido se espalhou por todas as classes , líderes políticos, religiosos e o povo em geral e culmina num cenário completamente legalista sem qualquer vestígio de piedade para onde Jesus vem interferir.
O jejum foi muitas vezes um meio de refrear os apetites carnais pecaminosos a partir do desempoderamento do próprio corpo cortando-lhe o suprimento normal do alimento por um período de tempo e sincronicamente diligenciando a mente ao Espírito de Deus através de sua Palavra e da oração de auto-renúncia. Muitos são os exemplos pedagógicos de jejuns no Antigo Testamento. Por quarenta dias, Moisés esteve em jejum no Monte Sinai enquanto recebera as tábuas da Lei (consagração, Êxodo 24); o mesmo Moisés instruído por Deus instituiu um Jejum nacional e perene para Israel, o chamado dia do perdão (Yom Kippur), cujo propósito era a purificação e a propiciação dos pecados (perdão, Levítico 16); por sete dias Davi jejuou para que seu filho fruto de relacionamento pecaminoso não morresse (arrependimento súplice, 2 Samuel 12); até mesmo através do ministério hesitante do profeta Jonas, a atroz cidade de Nínive se humilhou e jejuou arrependida de seus feitos e em face da ameaça do juízo iminente Deus alcançou sua misericórdia. O jejum não deveria jamais ser compreendido como um ritual de cunho dietético, ele não é ritual, nem dieta ou mera abstinência alimentar. Nem mesmo o jejum é um fim em si mesmo, ninguém deve jejuar observando-o como um meio para obter algo para si, um benefício, um favor ou um merecimento, ele é antes, uma ação de esvaziamento da personalidade e das volições onde a Carne exaurida de suas concupiscências cede espaço para o Espírito; sua Palavra e sua ação. Contudo, com o passar do tempo, Israel passou a abandonar os princípios fundamentais para essa prática e passou a decretar jejuns gerais e rituais como uma atividade mecânica e desprovida de qualquer compromisso com a espiritualidade. Esse processo de abandono do sentido se espalhou por todas as classes , líderes políticos, religiosos e o povo em geral e culmina num cenário completamente legalista sem qualquer vestígio de piedade para onde Jesus vem interferir.
Jesus e o Jejum
Jesus surge dentro de uma cultura religiosa completamente desfigurada
de seus moldes inaugurais dentro da história de Israel. Como já afirmado aqui,sacerdotes e
templo imersos em corrupção e legalismo, o abandono do papel profético e
social por parte de todas as castas tanto religiosas como políticas, e,
a grossa camada do povo manipulada de lado a lado como "massa de
manobra" contra o dominador externo, o império romano. Neste contexto, a
figura de Jesus desponta não por ser necessariamente um homem de
conhecimento exaustivo sobre todas as áreas da sabedoria humana, mas uma
espécie de singularidade detentora de consciência sobrenatural e
antagônica aos padrões da sociedade, e essa figura de paradoxo é o que
vai causar tanto para o bem como para o mal temporais os maiores embates
que culminarão na sua morte desde a eternidade planejada por Deus. A
leitura que Jesus oferece para o jejum é também um dos muitos traços de
sua figura renovadora.
" Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". "Jesus respondeu: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'". ___ Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse:" Se és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Pois está escrito: "'Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra'" Jesus lhe respondeu: " Também está escrito: 'Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus'"___ Depois, o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E disse-lhe: "Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares". Jesus lhe disse: "Retire-se Satanás! Pois está escrito: 'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a Ele preste culto'.
" Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". "Jesus respondeu: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'". ___ Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse:" Se és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Pois está escrito: "'Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra'" Jesus lhe respondeu: " Também está escrito: 'Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus'"___ Depois, o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E disse-lhe: "Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares". Jesus lhe disse: "Retire-se Satanás! Pois está escrito: 'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a Ele preste culto'.
Antes de começar seu ministério Jesus é submetido a uma duríssima provação, um jejum de 40 dias e 40 noites abandonado em solidão completa no deserto, uma abstinência que em si só já bastaria como pena. Mas, o jejum foi só o prólogo para a verdadeira prova, a tentação de Satanás. A forma como é descrita esta passagem, ensina diversas lições teológicas, mas, o ponto patente que define quanto ao padrão de comportamento que deve ser adotado por quem resolve jejuar é que o aparente abandono, a solidão de Jesus é somente exterior; Jesus sempre esteve ligado ao Pai em oração e entrega permanente, e esta ligação não só o envolveu para que nem se percebesse sozinho, ela o proveu, o sustentou e o fortaleceu. A prova de tudo isto é ostensiva no texto e na autoridade com os quais ele responde às investidas de Satanás. Portanto, nenhuma autoridade maior que o exemplo do Deus Filho para que seja imitado com espírito reto. A retidão de espírito é uma condição inegociável uma vez que Jesus lança severa censura ao jejum dos hipócritas (Mateus. 6' 16-18), que procuram não só exibir uma aparência de abatimento e fraqueza, mas, até transfiguram-na em falsa debilidade para que sejam percebidos e considerados piedosos e religiosos pelo povo. Para este tipo de conduta Jesus assegura que a única recompensa dos mesmos é a impressão dos que julgam a partir do que se pode ver; a recompensa dos retos vem de Deus que julga o que está em secreto dos olhos humanos.
Discípulos que não jejuam
Mais adiante, Jesus surpreende aos discípulos de João, o batista, que o buscam para indagar-lhe o porquê de os seus discípulos (de jesus) não praticarem o jejum,ao contrário deles e mesmo dos fariseus. Fazendo uso de linguagem metafórica, Jesus afirma-lhes que é impróprio que jejuem os convidados às bodas (os discípulos/os salvos) em presença do Noivo (Jesus); é incompatível com a alegria do instante que se faça abstinência das benesses da festa; o jejum é adequado quando os convidados não têm o Noivo em companhia, quando os salvos percebem que fora lhes tirado a alegria da convivência com o Noivo e do vislumbre da iminente celebração das bodas. Jesus lança fundamentos para os tempos em curso até a sua vinda para estabelecimento do Reino ao mostrar que a tristeza pelo distanciamento dos propósitos de Deus é, ou deve ser a motivação, o impulso direcionador do fiel ao jejum; a retirada transitória de Jesus do tempo humano não pode tomar do crente a alegria expectante da volta do Cristo, por que o Espírito lhe foi enviado para consolo e doutrina, mas ela (a ausência do palpável), deve lançá-lo ao contato contínuo com a Palavra de Deus e a oração pois, de fato a maior das solidões é o abandono a Deus ou, pior, o abandono de Deus.
A Palavra é a manifestação escrita ou narrada do próprio Deus, resguardando-a no íntimo do seu ser, ninguém estará destituído de graça. Entretanto, muitas vezes o homem através de atitudes rebeldes e sede de satisfação autônoma entristece ao Espírito, encobre a sua ação nele. Ao retirar-se da provisão do Espírito, Cristo será também no homem tornado apenas uma pálida imagem de piedade restrita em si mesma, incapaz de inspirar renúncia, então, jejum é uma rota de escape que pode ser providencial quando o indivíduo encontra-se no limiar da abastança do pecado e da escassez de Deus em sua vida. O jejum foi praticado desde os primórdios da igreja e Cristo é o estabelecedor da norma funcional para tal prática,e, o Espírito Santo fala à consciência dos salvos sobre o estado da sua fé, sua necessidade ou não de renovação e avivamento.
Quando e para quê
Conscientes de que o próprio Espírito é quem nos conduz ao Jejum os crentes dos dias de hoje devem sempre buscar entender se o aparente constrangimento que os move circunstancialmente sejam eles individuais ou coletivos, são legítimos ou mera vaidade, ou ainda, uma tentativa espúria de barganha junto a Deus; também devem estar seguros de suas condições de saúde, se elas permitem a privação do alimento e por qual período de tempo, até porque, mais do que a supressão do pão, o espírito que está inserido na motivação para o jejum é o de ferir a própria alma tão submersa em corruptibilidade, sensualidade e rebeldia contra Deus. O jejum como abstinência é um aditivo eficaz para levar à esse fim por meio do enfraquecimento da carne, mas, é certo que o indivíduo deve buscar de todas as formas o permanente autoexame de sua própria consciência pela via mais que eficaz que é a oração, a súplica a Deus para que o próprio Espírito lhe traga o testemunho fiel e que não permita ser somente o homem o juiz dessa averiguação. Por fim, o jejum é sim uma prática atual e salutar para o crente, para a igreja, mas, terminantemente, ele não aponta nem se encerra no homem, conquanto em Deus.
Leitura recomendada: Fome por Deus- Buscando Deus por meio do jejum e da oração/ John Piper_ Editora Cultura Cristã.