quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Sem graça e sem respeito.

            







Uma das muitas charges que motivaram o atentado

Capa da edição levada hoje às bancas





                No dia 7 de janeiro de 2014, a cidade de Paris foi palco de um chocante atentado contra um jornal satírico de ideologia política de esquerda, onde 12 de seus funcionários foram mortos sob o ataque de 2 irmãos de origem argelina que convertidos ao islamismo e recrutados por radicais enquanto um deles  encontrava-se ainda preso por delito anterior. Além dos mortos no atentado ao jornal e a caçada posterior aos terroristas acabou em somar o número de 18 mortos, dentre eles, os autores do ataque Cherif Kouachi e Said Kouachi, que se autoproclamaram na iminência da morte como vingadores do profeta (Muhammad, Maomé), do islã e de Alá. O motivo ou motivação para o ataque terrorista e todo o ódio contra o jornal e seus realizadores: a persistente publicação de sátiras retratando personagens e símbolos sagrados para o islã em situações constrangedoras, aviltantes e ofensivas aos praticantes da religião muçulmana. 
                   A prática habitual de ridicularizar o sagrado no entanto, se estende à todas as demais instituições religiosas, esse ecumenismo do ultraje já causou polêmicas e a condenação por parte de judeus, católicos e outros que foram vítimas da acidez crítica autopromovida com a pecha de humor. 
                   Hoje, um ano depois, o Charlie Hebdo (nome do jornal) continua sendo publicado, sua redação foi transferida de local, este agora é de desconhecimento público e é guardado sob forte proteção policial. Mas se por um lado parecem negativas as consequências provocadas após o ataque, por outro, cabe registrar que cresceu de forma exponencial o número de leitores/anunciantes do jornal, assim como a sua influência política. Da mesma forma, hoje o Charlie Hebdo continua a provocar a religião, seja ela qual for, com sua mordaz militância de caráter anticlerical sem se importar com o mal que ela provoca no outro e o outro mal que ela atrai contra si mesma. 
                   Apesar de a França nunca ter sido um porto seguro de tolerância religiosa e das liberdades de expressão referentes ao religioso, ela arroga para si uma particular e "santa" posição de respeito ao indivíduo e à concórdia pomposamente consagrada pelo lema utópico e controverso desde a sua concepção da Revolução Francesa: Liberté, egalité, fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade). Em verdade, como poucos, o país é um reduto do Humanismo e das humanidades, e do laicismo. E, se hoje a França promove uma flagrante xenofobia contra os muitos muçulmanos residentes em seu território, sobretudo em Paris, não faz nada mais do que outrora fizera contra outros sob pretextos e impulsos de caráter religioso.
                  Mas, quanto às vítimas primárias do atentado em si, algumas poucas considerações se fazem salutares e indispensáveis para se buscar uma melhor compreensão não só desse evento em específico, mas, de outros com similaridades que vez por outro ocorrem em nosso mundo caótico. Pretendo realizar tais considerações numa sequência de perguntas e respostas reservando o pleno direito de ser discordado e mais que tudo, antecipando-me no também direito de contrapor-me ao atentado e a qualquer ação violenta que atente contra a vida de quem quer que seja, qual tenha sido sua ofensa e sua origem; qualquer justificativa é para tanto, injustificável.

* O Charlie Hebdo faz um humor que a liberdade de expressão resguarda?
_ Não percebo humor no conteúdo das charges do jornal. Mas, antes de tudo, o humor pode ser uma forma de expressão através da qual atinge-se pela crítica indireta toda e qualquer instituição social existente, e, as instituições religiosas não constituem exceção num mundo ideal de liberdade de expressão. Entretanto, já pontuara o filósofo também francês Jean Paul Sartre: "a liberdade de Expressão precede de responsabilidade e respeito", do contrário, torna-se ofensa e libertinagem. O flagrante caso de desrespeito e agressão ao Islã rompeu abruptamente essa barreira delimitadora, e portanto, atraiu contra si a fúria desproporcional de extremistas que a qualquer hora poderiam vir manchados ou não pelo viés religioso  

* O Islã é mau?
_ Seria leviano afirmar que qualquer fé ou movimento religioso de grande vulto é mau, pratica o mal ou prega a violência. Em princípio, porque toda religião ensina o homem a se inserir na história com vistas a promover a restauração de valores fraternos e de convívio que possam estar sob ameaça e também o conduzem à busca de uma exaltação pessoal. As muitas interpretações ou digressões realizadas pelo próprio homem é que diferem e se contrapõem causando choques e disparates na forma e no meio pelo qual se levará esse processo de tornar real o ideal. O islã como um todo, como uma fé ou religião, não pode ser responsabilizado pelo caso francês nem pelos diversos ataques terroristas os quais temos nota, dentro dele muitos 'islamismos' brotam constantemente e seus interesses pouco ou nada estão suportados pela "ortodoxia do Islã", imaginemos por exemplo, se todos os muçulmanos do mundo pensassem e agissem movidos por um mesmo impulso de ódio contra o ocidente... estaríamos como que perdidos;  em verdade, todas as grandes religiões do mundo embora possuam pontos de credo convergentes, quando as observamos com mais acuidade, percebemos que elas são como colchas de retalhos.

* A religião é intocável? 
_ De forma alguma a religião constitui-se numa instituição que transcende o alcance da critica ou mesmo da censura em casos de flagrante abuso. Como qualquer outra deve conviver em condição de igualdade de respeito e de harmonia com os direitos e deveres da sociedade. O caso do Charlie Hebdo, assim como tantos outros que se praticam contra as religiões, pela agressão a símbolos e personagens devem ser compreendidos também pelos óculos dos agredidos, não somente pela visão crítica de enfrentamento gratuito ou não, daquele que agride. A religiosidade para aquele que crê, fala daquilo que é mais sublime e essencial no homem. Não importa o tamanho visível da fé, os movimentos e gestos realizados, a religião é a chama relutante do homem ideal que reside naquele que ainda que nublado ou mesmo entenebrecido, vê por efeito da fé, por força da esperança aquilo que ora é só vislumbre audacioso. A religião quando violentada, ainda que não personalizada, não personificada pode suscitar na mente de qualquer anônimo, a expressão do atingido. Não bastasse isso, ao violentar aquele que por mandato de fé deve promover a harmonia e a comunhão com o semelhante, incorre-se no risco de retirar do mesmo, os obstinados ideais que uma grande parte da humanidade já abdicou.
                   
                  Por fim, olhando de hoje para trás, percebemos que o mundo cresceu na promoção da intolerância e pelas mais diversificadas razões o ódio tem causado vítimas, guerras e rumores de guerras se multiplicam, e, não é a capa da edição de hoje do Charlie Hebdo retratando a figura de Deus armado e com os pés manchados de sangue, com a frase: "o assassino ainda está solto", que vai proporcionar qualquer melhoria nas relações humanas, pelo contrário, ela tende ao aumento do ódio. Quando consideramos muitos casos de generalizações que definem o todo como uma unidade monolítica (como quem define toda uma religião como má pela ação inconsequente de um indivíduo ou um grupo), muitas vezes estamos diante de um equívoco de julgamento de corrente da ignorância. No caso do CH, tal prática é fruto de um ativismo político anticlerical claro e inaceitável. O libertino jornal que certa vez se autointitulou como irresponsável com a intenção de justificar suas agressões, é um veículo de comunicação de instrumentalidade política e para tanto, precisa enquadrar-se nas mesmas regras que regem as instituições políticas que intentam estabelecer influência e governo na sociedade. 









Este é um texto atípico dentro da proposta inicial deste blog, e, foi com muita relutância que decidimos  trazê-lo à tona. Cremos no entanto, que muitas questões compreendidas dentro desse tema e mesmo as que não foram tratadas aqui, acabam por envolver muito do que temos vivido no Brasil e no mundo. Cabe um pedido de desculpas àqueles que estão acostumados e preferem outra temática em nosso textos, bem como o registro de que pessoas como as aqui retratadas com protagonismo são ainda que nos machuquem, merecedoras de nossas orações por sua redenção pelo Deus que elas próprias julgam estar destronando de sua majestade










sábado, 2 de janeiro de 2016

Um lugar onde as buscas atingem seu fim.



                 Todos os anos os pais de Jesus viajavam para Jerusalém a fim de participar da festa da páscoa. Quando o menino estava com doze anos, fizeram a peregrinação de costume. Ao terminar a festa, eles tomaram o caminho de casa, e o menino Jesus ficou para trás, em Jerusalém, mas seus pais não perceberam. Pensando que ele estava em algum lugar com os outros peregrinos, viajaram um dia inteiro e, então, começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos, mas foi em vão. Por isso, voltaram a Jerusalém para ver se o encontravam.
                  No dia seguinte, eles o encontraram no templo, assentado entre os líderes religiosos, ouvindo-os e fazendo perguntas. Os mestres estavam deslumbrados com Ele  e impressionados com as suas respostas precisas. Mas José e Maria ficaram preocupados e aborrecidos.
                  Sua mãe repreendeu-o: "Por que você fez isso conosco? Seu pai e eu estávamos desesperados, procurando você!".
                  Ele disse: "Por que estavam procurando por mim? Não sabiam que Eu tinha de estar aqui, tratando dos assuntos do meu Pai?". Mas eles não tinham ideia do que Ele estava falando.
                  Então, Jesus voltou para Nazaré com eles. Era um filho obediente. Sua mãe guardava todas essas coisas no coração, enquanto Jesus crescia, com saúde e sabedoria, abençoado por Deus e pelos Homens.*      

Paráfrase do Evangelho segundo Mateus Capítulo 2, Versos 41 a 52.





* Extraído de A Mensagem, por Eugene Peterson.