sábado, 23 de abril de 2016

Descobrimento de nossa miséria

                     
      Convidados/ Provocações      
     



                     Em 22 de abril de 1500, descobriram o Brasil, a história oficial conta assim. Descobriram uma terra cheia de 'Ouro' que podia ser explorada, descobriram uma imensa fauna e flora que podia ser desvastada, os índios, legítimos donos da terra foram dizimados...a corrupção...essa não sei se foi descoberta aqui...mas aqui ela foi aperfeiçoada. E nessa trilha caminhamos rumo a estagnação...a violência desenfreada, narcotráfico tomando de conta das ruas, mulheres não podem mais ser vistas como recatadas que viram piadas...deputados cospem na cara dos outros sob o pretexto de defenderem direitos...isso tem solução? Os amigos que viajam para Europa...voltam contando maravilhas, a Suíça "que povo educado". Mas lá nem sempre foi assim...os dias por lá também já foram tenebrosos...até que ocorreu uma mudança radical...sobre esse assunto...passo a bola pro Marcio Rogerio Bernardo, ele é mais capacitado que eu para falar desse assunto.




Uma bela gravura representando a chegada dos portugueses no Brasil


                           
                   

                


                   A propósito do tema aberto por Socorro Matos, "descobrimento" é um termo que causa a mais forte ojeriza e indignação dos nativos desta terra por trazer-lhes à mente a expropriação e o genocídio promovido contra seus ancestrais pelo europeu invasor, há pouco mais que 500 anos, e, que até hoje não lhes foi restituída compensação escrupulosa ou mesmo a própria dignidade. ' O Descobrimento do Brasil' é o marco inicial da pilhagem mais lucrativa sobre o Novo Mundo e nada tem de heroísmo e de conquista, é uma história de sangue e dor.
                    O invasor, mais tarde colonizador, sempre viu o Brasil como uma fonte de extração de riquezas para serem usufruídas no exterior e, talvez, o legado real dos portugueses e outros nem foi a corrupção, esta é um mal próprio da humanidade, mas, foi o senso de alienação ou não-pertencimento nacional, pois hoje e sempre, o brasileiro conforme progride social e economicamente voltou sua atenção e anseios para outros países mais evoluídos. A corrupção no Brasil começa com Pero Vaz de Caminha que após o descobrimento em carta ao rei de Portugal solicita-lhe um emprego público para um parente; a corrupção no Brasil está na negligência dos jesuitas de oferecer o ensino apenas aos dignitários e nobres da nação e, repelir sanguinariamente sob a liderança do Padre Anchieta os missionários huguenotes (calvinistas) enviados da França por João Calvino, uma vez que, além e para o propósito evangelístico desses, a educação pública era um princípio norteador de sua missão; a corrupção está no nascimento golpista da República que escorraçou um imperador que embora pouco afeito com a política, era um apaixonado pela pátria, e, a corrupção está em não oferecer o bem público e impedir violentamente aqueles que se propõem a fazê-lo está aqui hoje quase que onisciente no fato de que quadros corruptos são julgados e combatidos por agentes corruptos usando de expedientes pervertidos.
                    O velho adágio ufanista 'o Brasil é o país do futuro' jaz na poeira da corrupção e as esperanças ainda que renovadas pela operação Lava-jato por exemplo, ainda inspiram a desconfiança de que num médio prazo o país se torne um lugar de prevalência moral e cívica. Acerca do exemplo suiço sugerido por minha predecessora nesse tema, um país que fora conhecido como lar de mercenários de aluguel para as guerras entre nações européias no Século XVI, e hoje desfruta e oferece aos seus cidadãos invejáveis liberdades individuais, equilíbrio social, cultural e ético nem se vislumbra num longínquo horizonte imaginado por um brasileiro sonhador. E na mesma Suiça, não foi preciso se fazer novas guerras para promover a transformação radical cujos efeitos perduram até hoje, também não foi necessário fazer uso de expedientes excusos. A força motivadora de tal transformação foi o Evangelho propagado pelo reformador protestante de segunda geração João Calvino, que ao lado de outros, pregou a mensagem cristã acompanhada de um processo educador do povo e da ampla formação profissional dos mesmos, tanto de pobres vocacionados quanto párias que levavam uma vida de vadiagem e pequenos furtos. Também não faltou o justo auxílio aos mais pobres até que eles se tornassem produtivos para a sociedade. Tão logo se perceberam os bons efeitos do Evangelho na Suiça, o mesmo programa da Reforma mais a promoção da justiça social
com pontuais ajustes locais foi posto em prática por toda a Europa. Então, ainda que seja devida a Deus a mudança operada, é salutar aqui lembrar que o mesmo Deus faz uso de mãos humanas para agir na sociedade.
              Mas, ainda que sobrem na perspectiva imediata motivos para desistir da resistência e do enfrentamento e até mesmo haja muitas aberturas para se inserir no círculo da corrupção, o cidadão médio deve antes de tudo se orientar pela sua própria consciência e temor, considerando o que será o seu legado pessoal para os seus e o que a sua interferência no meio promove se bem ou mal, em síntese qual foi a sua causa nesta vida; apenas um cidadão que é íntegro e moralmente pudico tem a dignidade o bastante para cobrar a legalidade e a legitimidade das instituições públicas e pode reformá-las. Parafraseando o educador Darcy Ribeiro:' ...Travei muitas lutas durante a minha vida toda, e em verdade, a maior parte delas perdi. Mas, não importa pior derrota seria ter me unido aos que combati'. No dia em que se lembra o descobrimento do Brasil pelo homem exterior, talvez um bom exercício pessoal seria buscar se descobrir a si mesmo, que tipo de brasileiro cada um é, quer e pode ser.

* Cabe o esclarecimento de que quando citado o exemplo suiço no Século XVI, especificamente nos referimos à Genebra como o ponto de partida da transformação social européia, pois à época, a mesma ainda não era parte integrante da Suiça.

 ** Nesta aba convidados, o blog King of the Universe discorre sobre algum tema sugerido ou provocado por seus leitores e amigos.

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